quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Entrevista - Michelson Borges


Michelson Borges é jornalista, formado pela Universidade Federal de Santa Catarina. Foi professor de História em Florianópolis e editor do jornal da Rádio Novo Tempo daquela capital, onde também apresentava um programa de divulgação científica. É editor de livros na Casa Publicadora Brasileira. Também é autor dos livros História da Vida, Por Que Creio, Nos Bastidores da Mídia (também publicado em espanhol, com o título Detrás de los Medios), Esperança Para Você e da Série Grandes Impérios e Civilizações, composta de seis volumes. Mestre em Teologia pelo Unasp, é membro da Sociedade Criacionista Brasileira e tem participado de seminários criacionistas por todo o Brasil. Casado com Débora Tatiane (co-autora do e-book Deus Nos Uniu), tem duas filhas. Ambos gostam de desenhar nas (poucas) horas vagas. (Biografia cedida pelo Michelson Borges no Blog Criacionismo)
Entrevistei via e-mail o Jornalista Michelson Borges, autor do Blog Criacionismo, o maior blog criacionista da atualidade, para a matéria de técnicas de entrevista. Ele nos fala um pouco de sua vida e carreira.

1. Michelson, fale-me um pouco sobre a sua infância e a influência que a religião teve sobre ela?
Venho de uma família católica. Minha mãe sempre foi muito devota e nos levava à missa desde pequenos. Por outro lado, tínhamos livros de ciência em casa; enciclopédias interessantes e ilustradas que meu pai havia adquirido anos antes de eu nascer, e que despertaram meu gosto pela ciência (meu nome vem de um desses livros, que traz uma reportagem sobre o físico Albert Abrahan Michelson). Agradeço aos meus pais por essa herança religiosa e científica que me ajudou a buscar em Deus e no conhecimento as respostas para muitos dilemas que enfrentei na adolescência e juventude. Foi nessa busca que acabei encontrando o adventismo e o criacionismo e completando minha formação religiosa/filosófica.

2. Como foi que você escolheu fazer jornalismo? E teologia? Foi difícil conciliar as duas carreiras?
Fui batizado na Igreja Adventista na mesma época em que passei no vestibular para Jornalismo na UFSC. Sempre gostei de escrever e pesquisar assuntos diversos. No ensino médio (cursei química), criei um jornal para o colégio e era muito prazeroso escrever e editá-lo. Isso me ajudou a definir a escolha por Comunicação Social. Depois de formado e trabalhando na editora da igreja, cursei o mestrado em Teologia no Unasp, um sonho que estava acalentando fazia tempo. Se é possível conciliar as duas áreas? Para mim, que trabalho na imprensa da igreja, é bem mais fácil, sem dúvida. A comunicação pode e deve ser usada para transmitir valores e mensagens de esperança. Se trabalhasse na imprensa secular, seria um pouco mais difícil essa conciliação, mas não impossível, evidentemente.

3. Quando você começou a defender a bandeira do criacionismo em sua vida? E como foi a concepção do blog “Criacionismo”?
Eu era evolucionista teísta antes de conhecer o criacionismo. Naquele tempo, havia pouca literatura sobre o assunto e pouquíssimas pessoas sabiam o que é criacionismo (hoje, muitos já ouviram falar, mas de forma preconceituosa, infelizmente). Quando descobri que havia uma teoria que procura harmonizar coerentemente o conhecimento teológico com o conhecimento científico, fiquei fascinado e comecei a me aprofundar no assunto. Anos depois, resolvi disponibilizar em linguagem acessível todo o resultado dessa pesquisa. Nasceu o blog www.criacionismo.com.br.

4. É aparentemente difícil que os grandes intelectuais interajam ideais religiosos e criacionistas, mas você vai na contramão deles. Por quê?
Na verdade, a profundidade em ciência e filosofia nos aproxima de Deus. Bons exemplos disso são os grandes cientistas fundadores do método científico, como Galileu Galilei, Isaac Newton, Copérnico, Van Helmont e outros. Eram homens de ciência e de fé. Poderia citar ainda Blaise Pascal, Antony Flew e os brasileiros César Lattes e Marcos Eberlin. Portanto, considero-me em muito boa companhia...

5. Segundo o professor do curso de jornalismo do UNASP, o Pr. Allan Novaes, todo ser humano passa pelo menos uma vez na vida por uma situação extremamente difícil. Situação essa que o obrigará a sair de sua “zona de conforto”. O resultado disso seria uma fé definida, e com raízes mais fortes, em nosso Criador, ou a ausência dessa fé. Você já passou por esta experiência? Se sim, pode compartilhar conosco?
A conversão ao adventismo, no fim da década de 1980, foi um momento crucial em minha vida. Tive que repensar muito conceitos e Deus precisou permitir que algumas situações marcantes ocorressem para que eu percebesse a necessidade de mudança. Minha esposa e eu estamos relatando essas experiências no livro “Deus Nos Uniu”, cujos capítulos (ainda em construção) estão disponíveis num link em meu blog.

6. O que o faz levantar cada dia neste mundo, e mesmo em meio a tanta maldade, acreditar que haja um Deus que Se preocupa com você? Por que acreditar que esse Deus irá voltar aqui? (um argumento teológico e outro filosófico se possível)
Apesar da maldade e dos problemas do mundo, quando contemplo a harmonia fina das leis que regem o universo e a complexidade integrada e irredutível dos processos biológicos, não posso pensar em outra coisa senão em louvar a Deus. Os problemas nessa criação mostram que houve algo de errado na história passada que ainda afeta nosso planeta, mas não que não haja um Deus Criador. Esse Deus Se revelou na Bíblia e esse livro me diz que Ele me ama e materializou esse amor na vida e morte de Jesus. Tudo o que as profecias bíblicas anunciaram tem se cumprido à risca. Por que vou duvidar de que a última profecia dela vá se cumprir? Creio de todo o coração e mente que Jesus voltará, pois não faria sentido ter morrido para nos redimir e nos deixar abandonados neste mundo.

7. O blog A Arte de Pensar tem discordado fortemente, às vezes até de forma ofensiva, dos criacionistas, adventistas e, mais especificamente, o blog Criacionismo e você como o autor. Por que você acha que isso acontece? Em sua opinião, seria possível uma sociedade em que criacionistas e evolucionistas vivam em perfeito respeito de opiniões?
Confesso que não conheço esse blog, mas conheço pessoas que discordam de mim e do criacionismo. Já li muitos livros desse tipo. Isso é bom. O contraditório é importante para que o conhecimento seja ampliado e erros, corrigidos. Analisando o assunto mais a fundo, percebe-se que as discordâncias têm que ver com o aspecto filosófico das cosmovisões. Naturalistas e teístas/criacionistas nunca vão concordar no que diz respeito à existência ou não de Deus, pois assumem sua posição a priori, de maneira filosófica. Poderia haver acordo se ambos se despissem da filosofia e tratassem apenas da ciência experimental. Daquilo que pode ser verificado em laboratório, como a microevolução, por exemplo. A indisposição dos evolucionistas de conhecer melhor as pressuposições criacionistas tem atrapalhado e muito o diálogo. Mas também há criacionistas que mal conhecem a ciência e o pensamento darwinista e que atrapalham igualmente a aproximação entre os dois grupos.

8. O escritor cristão C. S. Lewis em seu livro “Cristianismo Puro e Simples” diz que pode haver muitos que seguem crenças erradas mais perto de Cristo do que alguns que seguem as crenças corretas. Isso vale para evolucionistas também, que conhecem o criacionismo e, mesmo assim, ignoram a existência de Deus?
Isso pode acontecer, sem dúvida, pois sinceridade nem sempre tem que ver com conhecimento doutrinário/científico. Mas também creio que somos responsáveis pelo conhecimento que está à nossa disposição e que conscientemente negligenciamos conhecer. Se Deus existe e eu o nego, posso estar descartando a maior revelação do universo e que vai determinar minha vida eterna. Isso é muito sério para ser tratado com desprezo. Se a Bíblia é de fato a palavra desse Deus e eu a descarto por puro preconceito, sem estudá-la, dando-lhe o “benefício da dúvida”, minha perda pode ser igualmente eterna e de consequências drásticas. Se a pessoa é realmente sincera, vai procurar conhecer o que está por trás das discussões e finalmente encontrará a verdade. Assim creio.

9. Stephen Hawking, uma das grandes mentes da atualidade, disse certa vez: “Há uma diferença fundamental na religião, que se baseia na autoridade, e na ciência, que se baseia na observação e na razão.” Essa afirmação é verdadeira? Por quê? Podemos basear a religião na razão também?
A própria afirmação de Hawking contradiz o que ele afirma. Devo aceitar a opinião dele só por que vem da autoridade dele? Na ciência também há muito de autoridade e metafísica; nem tudo é só “observação e razão”. Tente criticar Darwin ou o darwinismo em público e você verá como isso é verdade. Creio que tanto na ciência quanto na religião as pessoas deveriam buscar a verdade por si mesmas, aliando fé e razão. A verdadeira religião é experimental (relação com Deus) e racional (a apologética que o diga).

10. Stephen Hawking passou por experiências ruins que o levaram ao ateísmo. Uma delas foi que em sua infância, ao questionar uma autoridade religiosa local sobre a certeza de um Criador, foi duramente repreendido. Outro grande pensador, Darwin, parece ter criado a teoria da evolução a partir de uma “rixa” que teve com Deus. Você acha que o ateísmo deriva de observações concretas ou da raiva que eles têm de Deus?
O ateísmo pode ter muitas razões. Pode ser a influência de família ou mesmo a transferência para Deus de mágoas de infância contra o pai, como bem explica o livro “Deus em Questão”, de Armand Nicholi Jr. Outro que teve experiências ruins na infância foi Richard Dawkins. Ele admite que sofreu abuso num colégio religioso na Inglaterra. Com certeza, isso fez com que ele desenvolvesse resistência à religião e a Deus. Hoje Dawkins procura argumentos racionais para manter uma posição que, em seu cerne, é emocional. O autor de “O Código Da Vinci”, Dan Brow, também se decepcionou na infância com religiosos. De ateu acabou se tornando esotérico. E Darwin, quanto se saiba, nunca foi ateu. Foi agnóstico.

11. Gostaria de mandar um recado aos amigos ou adversários evolucionistas e/ou ateus?
“Analisai tudo, retende o que é bom” (1 Tessalonicenses 5:21).

12. O que você diria para um futuro jornalista?
Procure obter uma formação eclética, lendo tudo o que puder de várias áreas do conhecimento. Mantenha a mente aberta, mas sem abrir mão de seus valores pessoais. Desenvolva seu senso ético e seja sempre honesto consigo mesmo e com a verdade dos fatos.




Quero expressar aqui a minha gratidão ao Michelson Borges pela entrevista e pelo apoio que tem dado a mim quanto a este Blog.

[ twitter.com/BrunoSNN ]

Um comentário:

  1. Muito bem elaboradas as perguntas que fez e muito boas as respostas do Michelson. Parabéns! Assim o jornalismo e o criacionismo são bem representados.
    Forte abraço e sucesso, Bruno!

    ResponderExcluir