sábado, 21 de janeiro de 2012

Diga não à SOPA - CENSURA VIRTUAL


O SOPA apesar de ser um projeto de lei Americano, não afetará apenas os Estados Unidos, pois o país concentra quase todos os serviços e sites que utilizamos diariamente, e que podem ser afetados tais como Youtube, Facebook, WordPress, Google, Gmail, Twiiter, e muitos outros. Temos de lembrar também que muitos sites são hospedados nos EUA, mesmo sem ter TLD americano e outros fora dos EUA com TLD americano como (.com, .net, .org) em ambos os casos o site estará debaixo da legislação Americana.

Entenda o SOPA:


SOPA também prevê instrumentos para bloquear os serviços de publicidade e pagamento online sob a jurisdição dos EUA, impactando qualquer site no mundo, apenas com base em uma denuncia de suspeita,e sem ordem judicial.

Os problemas não acabam por ai, o SOPA afetará profundamente a liberdade de expressão na Internet, todos os sites se verão obrigados a aplicar mecanismos de auto-censura, e filtrar toda atividade online de seus usuários para evitar serem bloqueados.

E junto com a lei Sinde na Espanha, Hadopi na França, o SOPA pode ser um terrivel instrumento de pressão para que demais países adotem legislações semelhantes. É importante lembrar que a Lei Sinde que aparentemente havia sido brecada por ativistas Espanhois, foi aprovada logo no inicio do novo mandato sob grande pressão Americana.

Como aderir
Qualquer forma de divulgação da ação é valida, estamos conectados em rede, qualquer pequeno esforço de cada um pode resultar em grandes impactos, veja algumas formas de agir.
Se cada um conseguir explicar para cinco pessoas os problemas envolvendo o SOPA e outros projetos de controle da rede, em pouco tempo teremos bastante gente engajada e informada. Falar sobre o assunto é muito importante, é um tema que afetará a todos nos e com esclarecimento e ação poderemos evita-los.

Assine a petição no site: http://www.avaaz.org/po/save_the_internet/

Não poderemos parar de usar estas redes e ferramentas neste dia, pois eles serão muito úteis para disseminar a ação, não esqueca de usar sempre a tag #SOPAblackoutBR.

[http://meganao.wordpress.com/sopa-blackout-brasil/]

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Um assalto a mão armada




Aconteceu que eu estava lá em casa com a minha irmã mais nova, a Jéssica. Ela tem somente 13 anos e é incapaz de machucar alguém. Era sexta-feira, por volta das 11 e vinte da noite. Como de costume, depois do culto eu chego em casa e deixo a porta aberta, por que onde eu moro faz um calor do diabo. Antes de me crucificar por isso, saiba que nunca tivemos problemas, afinal a minha rua é movimentada na sexta-feira a noite. Todo mundo voltando do culto, do estudo bíblico, e etc. Além do mais, a porta fica aberta até as três, quatro horas da manhã quando eu fico assistindo filme.
Meu pai foi fazer um plantão extra no setor de enfermagem do Cevisa. Ficaria fora aquela noite inteira. Minha outra irmã, como é de costume quando meu pai não está em casa, fugiu pra sabe-se lá aonde. Igualmente como de costume, quando minha irmã não está em casa a Jéssica não tem com quem conversar e fica batendo papo comigo.
Fomos para a cozinha, afinal é lá que fica a comida, quando minha irmã vira para o lado e exclama em tom de brincadeira:

- Ai, que susto.

Pensei: “Deve ser uma vizinha, ou a outra irmã fazendo gracinha”. Quem dera. Virei pra lá e vi um cara de uns 1,75cm, com um revolver escuro, calibe 32. A gente pensa um monte de coisas quando ouve histórias de assalto. Como reagir, o que fazer. A verdade é que é totalmente diferente do que você pode imaginar, totalmente diferente dos filmes que o cinema transmite.

Ele entrou em silêncio. Apontava a arma na direção do meu rosto, me encarando com os olhos arregalados.

- Cadê a chave do carro? – Perguntou sem rodeios. Este era o Calmo.

A Jéssica correu para trás de mim. Em sua ingenuidade de uma criança de 13 anos talvez tenha achado que eu pudesse protegê-la, Eu não podia. Não podia fazer nada. Sabe o que é nada? Não é quando você está doente e o remédio não faz efeito, ai você diz que não pode fazer nada. Não é quando você não fechou o semestre e o professor diz que não pode fazer nada. É quando você tem uma arma na sua cara, só ai você percebe que realmente não pode fazer nada. Eles estavam no controle. Eram eles quem davam as cartas.

Ainda assim, nada eu não podia fazer. Eu tinha que fazer algo para proteger o patrimônio, a vida e o psicológico da minha irmã. Essa é uma parte muito importante. De quê adiantaria ela escapar com vida daquele episódio, mas sair traumatizada sem poder viver direito depois daquilo. Aquela arma não podia ser disparada, eles não podiam se exaltar, eu não podia levar um tapa na frente dela, não na frente dela. Isso iria marcá-la pra sempre. Além disso, eles não podiam roubar nossas coisas.
- Meu pai foi trabalhar e levou. – Menti. A chave estava ao lado da TV. A gente não se lembra do nono mandamento nessa. A gente não lembra que é feio mentir. Eu não lembrei nem de Deus.

Um segundo, mais alto, veio por trás do primeiro. Esse era o Nervoso. Com a arma na minha testa, exclamou em silêncio:

- Dá a chave desse carro!

Ele definitivamente estava falando sério.

- Eu posso dar a reserva. – Respondi. Sabe, se algum dia você ousar mentir para um bandido, pelo amor de Deus, sustente a sua mentira não importa o que aconteça. Se ele descobre que você está mentindo, pode ser muito pior.
Entramos no quarto do meu pai. Eu me abaixei e puxei a gaveta onde estava a chave reserva do carro. Olhei e vi que um terceiro indivíduo se aproximava. Esse era o Mudo.

O Nervoso enfiou a mão e me “ajudou” a procurar, depois de ordenar silêncio, com um gesto.

- É essa aqui? – Perguntou, quando viu uma chave velha, colada com Durepoxi. Coisa de pobre.

- É. – Respondi.

- Tem dinheiro aqui?

- Tenho. Só tenho um pouco.

Fomos empurrados de volta pra sala. Eu fui ao lado da TV e peguei 20 reais que eu tinha, junto com o cartão do banco e os documentos.

- Eu só tenho isso. É o dinheiro da oferta.

- Não. A gente não quer não. – Um deles respondeu. Deve ter negado quando eu disse que era pra oferta da igreja. Com coisa de Deus não se mexe.

- Mora mais alguém aqui? – Perguntou o Calmo.

- Mora. Meu pai e minha outra irmã estão fora.

O Nervoso foi pro quarto das minhas irmãs.

- Vai chegar alguém? – Perguntou novamente o Calmo, com o meu celular na mão.

- Minha irmã saiu e deve chegar em meia hora. – Respondi, quase que implorando que fossem embora. Reconheço que não era somente a Jéssica que estava assustada.

- Tem mais algum celular na casa?

- Tem o da minha irmã, mas ela levou.

- Olha, fiquem calmos. A gente não veio fazer mal pra vocês. Não viemos roubar nada, não viemos sacanear. A gente só quer o carro pra fugir e vamos embora.

- Tá bom. É que a gente está com muito medo. Só queremos que vocês saiam logo. – Repliquei.

- Não precisa ficar com medo. Vocês podem se acalmar. Nada vai acontecer.

O assaltante Calmo realmente ajudou bastante.

Um deles viu a minha bolsa em baixo da mesa do computador. Pegou imediatamente e começou a mexer. Viu meu HD externo:

- O quê que é isso aqui?

- É o meu HD externo. Por favor, não leva ele não. Tem todos os meus arquivos da faculdade. Eu preciso muito dele.

- A gente não vai levar nada não. Fica tranqüilo. – Jogou o HD em cima da minha cama.
Foi aí que eu me dei conta de que iriam levar tudo o que não envolvesse muita tecnologia, como as TVs, DVDs, e o carro. E se iriam levar as TVs, pelo menos eu tinha que ter uma boa história pra contar [como se um assalto não fosse história suficiente]. Não faça o que eu fiz nessa hora, por favor. Eu comecei a fazer piada com os assaltantes.

- Vem cá, vocês querem comer alguma coisa? Um lanche? Tem pão, queijo, ‘suquinho’. Sintam-se em casa. – Disse num tom de brincadeira.

- Não. A gente não quer nada, não.

- E água, vocês querem água? – Quase que eu digo: Vocês devem ter trabalhado bastante hoje, né?

Essa da água também foi de brincadeira, apesar de dar pra perceber que eles estavam meio cansados.

O Calmo resolveu aceitar. A Jéssica achou que eu estava falando sério e emendou:

- Você quer como, fria, gelada, meio a meio?

“Cala a boca, menina!” – Pensei.

- “Cêis” para de graça, hein. – Disse o Mudo. <-- Esquisito, concordo.

Fui lá e peguei a água. Foi num copo sujo, mas ele aceitou mesmo assim. Sentei no sofá, ao lado da minha irmã, enquanto ele ia beber no banheiro. Não podia tirar a máscara na nossa frente, é claro.

Ficamos sozinhos com o Mudo. Ele não dizia nada, fazendo jus ao substantivo.
Sabe aquelas horas que você está falando com alguém e o assunto acaba. Ai fica um olhando pra cara do outro, sem falar nada? Pois é, ficou aquele clima meio chato na sala. Eu bati os dedos e pensei que eu tinha que dizer alguma coisa pra quebrar o gelo. Mas o que dizer para um bandido? Olhei pra arma dele... Boa idéia!

- Escuta, quanto custou essa ai? – Depois dessa, eu teria me dado um tiro.

O elemento não disse nada. Ele não deve ter acreditado.

O Calmo voltou e devolveu o copo. Mandaram eu deixar em cima da cadeira.

O Nervoso voltou:

- Ele tá falando a verdade. – Mostrou algumas coisas que comprovavam que não éramos as pessoas a quem eles, certamente, procuravam. Eu não sei o que ou quem era.

O nervoso veio então pra cima de mim:

- A gente está sendo legal com vocês, não tá?

- Estão.

- Não “tamo” sacaneando. Então por que você está mentindo pra gente?

- Eu não estou mentindo.

Ele abriu o zíper da jaqueta. Tirou o celular da Jéssica de lá.

- Então o que é isso aqui?

- Não, esse ai tá quebrado.

Um deles saiu e foi verificar o carro. Outro saiu e abaixou-se no escuro, com a arma preparada para atirar se alguém aparecesse. Eu me ofereci para ligar o carro, pois estava com a bateria desconectada. Fui e executei todos os procedimentos. Expliquei a situação do veículo. Tinha pouco combustível. Não ia rodar muito.

O Calmo me chamou de volta. Ele havia ficado na sala com a minha irmã. Conversou um pouco com ela, tentando mantê-la tranquila.

- Vocês vão encontrar o carro amanhã. A gente só quer ele pra fugir. – Ele disse com a chave de casa na mão. Realmente encontramos, batido, inútil.

Eles não podiam levar a chave de casa, se não poderiam voltar a qualquer hora que quisessem. Eu não podia deixar aquilo acontecer.

- Mas vocês vão levar a chave?

- Vocês vão achar depois.

- Tá, onde você vai deixar a chave?

- No carro. Vamos deixar tudo no carro.

- Não leva a chave não. Por favor. Eu preciso muito dela...

- Vocês não vão chamar a polícia?

- Não.

- Não vão chamar ninguém?

- Não.

Ele viu o quanto estávamos assustados e, para todos os efeitos, eu só tinha dito a verdade durante a ação.

- Eu vou confiar em vocês então. Mas se chamar a polícia, a gente volta e mata vocês. To com o seu celular, com todos os seus contatos, hein.

- Pode deixar. Não vamos chamar ninguém.

Ele devolveu a chave, fechou a porta e foi embora, com dois celulares, um DVD e o carro.

Naquela noite, minha irmã chorou como nunca havia chorado. Ela é uma criança diabética de apenas 13 anos, e já sentiu o cano de uma arma na testa.

Esse foi possivelmente o assalto mais tranquilo que já teve no bairro. Das outras vezes, levaram tudo, gritaram, bateram. Dessa vez, sussurraram. Tudo o que queriam era fugir. Eles eram bons. Tinha um foco e não se desviaram dele, não importa quantas piadas eu fazia. Ainda tiveram o cuidado de eliminar todas as digitais dos lugares em que tocavam.

Agora é só esperar pra acontecer outra vez, talvez até pior. Isso por que a presidente da associação dos moradores, a Lúcia não me importa o quê, recusou quando o delegado responsável pela região ofereceu colocar uma guarita policial no bairro. Segundo ela, nós todos somos adventistas, então Deus nos protegerá. “Tão adventistas que toda a semana pegamos dezenas de vocês dirigindo sem carteira de motorista por aqui”, foi a resposta do delegado.

Eu confio que Deus irá nos proteger. Alias, essa experiência é uma confirmação disso. Ele nos manteve calmos e aos assaltantes também, apesar de eu não ter tido tempo para orar. Ele tirou minha irmã mais medrosa de casa e meu pai maluco também. Sabe-se lá o que ele faria no meu lugar. Iria pular pra pegar a arma, possivelmente.

Eu me sinto triste, na verdade. Me sinto desmoralizado. A gente junta as coisas numa vida inteira, e uma pessoa arma pode, simplesmente, entrar e levar o que quiser; e você não pode fazer nada, além de assistir.Entraram na minha casa, mexeram nas minhas coisas, e eu não chamei a polícia por temer pela vida da minha irmã. Me sinto responsável pelo roubo, meio cúmplice até.

Pessoas assim assustam cidadãos de bem todos os dias. E o pior é que tem gente que luta pelo direito desses caras. Direito? Uma pessoa que invade uma casa e coloca o cano da arma na testa de uma criança de 13 anos tem algum direito de ter direitos?? Só quem passa por uma situação dessas tem o direito de responder a essa pergunta. Eu achava que sim. Sempre fui meio radical, sabe, mas de uns tempos pra cá eu fiquei mais humano. Eu me espantava quando eu via os presídios lotados, quando ouvia a notícia de policial surrando bandido, afinal até essa escória tem direito, certo? Não sei. Responda quando tiver um calibre 32 na sua cara. Até lá, maus tratos a bandidos são atos heroicos, dignos de medalha.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Toalete: regras de convívio


Ir ao banheiro é uma arte, uma paixão, um acontecimento visto como banal para muitos, mas como uma bênção para outros. É o que nos distingue, como seres pensantes, dos animais, seres instintivos. Somos a [suposta] espécie inteligente da Terra, por tanto não podemos evacuar em qualquer lugar, de qualquer maneira. Por isso inventaram-se os banheiros, um quarto onde deixamos tudo o que há de pior dentro de nós para então sairmos mais leves e renovados para mais um dia de vida.

Não sei direito como é para as mulheres. Quero dizer, para elas o banheiro não é simplesmente o lugar onde se deixa a bagagem de um dia inteiro de sufoco, mas sim um verdadeiro divã, onde se fala sobre os anseios e pesares de ser uma criatura sobrepujada por uma sociedade machista e opressora. Ou falam sobre homens, mesmo.
Mas para nós, homens, não é assim que funciona. O banheiro é um tempo sagrado de meditação e encontro com a verdadeira felicidade. É lá onde mantemos a relação diária com nosso “EU” interior. É lá onde ocorre todo um planejamento de vida, toda uma reconstrução da fantástica realidade masculina. Mas para que isso ocorra, algumas regrinhas básicas de asseio e boas maneiras devem ser obedecidas. Regras que garantem a higiene e a convivência dentro do toalete.

Antes de tudo, devo começar com a Regra de Ouro em um sanitário civilizado, a regra mais importante num banheiro masculino:

Silêncio! – Nenhum homem gosta de ser incomodado na hora da meditação. Não converse, não respire, ande na ponta dos pés. Aquele é um lugar de respeito.

Bom, vamos falar primeiro do número dois. É um assunto polêmico, pois durante esse fenômeno, nós homens temos um pequeno vislumbre do que é ser mãe. Foi feito para ser relaxante, é claro, e é, mas, convenhamos, que homem gosta de ter algo futucando lá atrás? Então quanto mais rápido terminar, melhor. Nada de ficar prendendo pra ir devagar, aproveitando o momento. O negócio é: sentou, abriu, caiu, limpou. Coisa rápida. Só então pode-se sentir o verdadeiro alívio de um barrão bem feito.

O bom é quando é daqueles aveludados, sabe. Depois que você come um arroz com feijão básico, uma saladinha... Perfeito! A criança sai com calma, ser forçar muito, sossegada. Dá pra ler um livrinho, uma revista, ouvir uma música no MP3 enquanto desenha figuras pervertidas porta da cabine, ou escreve algum pensamento profundo. Você quer medir o sucesso de um sanitário? Dê uma olhada atrás da porta. Se tiver muitos desenhos de mulheres de topless, ou frases como: “Aqui termina o trabalho de um grande cozinheiro”, então a cabine é boa mesmo. É só relaxar. A calmaria reina soberana durante o “aveludado”. Depois a gente até dá uma olhadinha pra ver como ficou a obra. Toda bronzeada, nadando calmamente na água tranquila do vaso, entre os macios tufos do papel higiênico.

Mas tem aqueles dias que você resolve comer bastante porcaria, coisa gordurosa e passa o dia inteiro sem beber uma gota de água. Meu amigo, o bagulho vira uma rocha. Ele fica grande, sabe, alto e musculoso, cheio de pontas, do tamanho de uma bola de futebol... Parece que tá saindo um porco espinho. Você se retorce todo, começa a suar que nem um cavalo. Oh céus! Meus olhos lacrimejam só de falar.

Também tem aqueles estilo “sopa de carne”, o chamado “Efeito diarréia”. É horrível. Parece que você está vazando. E é o mais fedorento também. Alias, estas são as duas regra para um número 2 civilizado:

Regra número 1: Sente-se espaçosamente, de forma a ocupar a maior parte do buraco possível. Abra bem as coxas, dê uma afundada, pois assim o odor, do qual só você não tem nojo, terá poucos lugares para sair.

Regra número 2: Faça o mínimo de barulho possível. Nada de gemer na hora da espremida, nada de dizer: “Ahhhh....”quando acabar. Antes de tudo jogue um pedaço de papel na água. Isso garante o seu conforto, pois não vai ter aguinha gelada nas ancas, e também o conforto de seus colegas, pois eles não terão que ouvir o som do primeiro contato do feto com a água.

Agora é a vez do número 1, a versão líquida do que se encontra dentro de você 2. Se por um lado o número 2 pode ser considerado desconfortável nos minutos da queda, o número 1 é delicioso até o fim, principalmente por que, mesmo que você beba um tijolo, ele não vai tentar alargar nada para poder sair. A não ser que você tenha pedra nos rins...

O número 1 é seu alívio de hora em hora. Tá na empresa, o trabalho não rende, o stress tá alto, todo mundo enchendo a paciência... Vai mijar, meu! Ficar enrolando pra estudar, enrolando pra trabalhar, ficar escrevendo besteiras no blog, é sinal de que sua bexiga está cheia. Levante-se, antes que a situação fique insustentável, e caminhe até o banheiro.

Chegando lá, você irá se deparar com duas opções possíveis para o seu alívio imediato: Vaso x Mictório... O que fazer? A resposta é: Tanto faz, desde que você siga as regras:

Regra número 0 – A Exceção à Regra de Ouro: Todo mundo gosta de evacuar com o delicado som de água jorrando. Ligue um chuveiro ou abara a torneira. Desta forma, tanto o número 1 quanto o número 2 se libertarão com maior fluidez.

Escolha número 1 – Vaso sanitário: Não há muito o que dizer neste caso. É óbvio que é a melhor escolha, pois haverá mais privacidade. É só você e o júnior, ninguém passando por perto. É só fechar a porta, ir pra cima da “pri”, botar pra fora e abrir o registro. Neste caso, você poderá escolher entre urinar na água e fazer barulhinho para que os coleguinhas ouçam o quanto você viril; ou pode também mirar do lado da água, na porcelana, sem fazer barulho, afinal, cachorro que late não morde.

Escolha número 2: mictório. È complicado, mas é delivery. Se você já estiver pingando, é melhor correr pra ele. Não tem porta, nem parede. É chegar, colocar pra fora, e mandar pro cosmos. Porém é claro, exige muito mais respeito.

Regra número 1: Zona de Conforto: Você deve sempre, SEMPRE, respeitar a chamada Zona de Conforto, proposta inicialmente pelo filósofo Michael Kyle, na obra “Eu, a Patroa e as Crianças”, em 2002. A regra diz que se você for usar um mictório, deve procurar o aparelho mais distante possível do próximo usuário, deixando sempre pelo menos um mictório vazio entre você e ele. Esse espaço é a chamada “Zona de Conforto”. Por que conforto? As razões são óbvias: eu não quero ninguém bisbilhotando nos meus assuntos. Quero privacidade. A segunda razão é que na hora de “balançar”, para dar aquela secada antes de recolher, é possível que gotículas se desprendam do lugar de origem e venham a atingir os pontos mais próximos. Leve em consideração que nem todos os mictórios tem divisória, e aí você terá uma bagunça se tiver gente do lado. Neste caso, a Zona de Conforto é chamada também de “Zona de Respingo”. Ela deve ficar vazia para garantir que todo mundo saia seco do recinto.

Regra número 2: O mictório foi projetado de forma que o jato não bata na parede e volte nadireção que veio. Você faz e ele respinga pra baixo. Infelizmente o xixi sai quente. Ele evapora. A arquitetura dos mictórios favorece a ascensão da água gasosa na direção de seu nariz, causando um tremendo desconforto. Esse fenômeno é conhecido como "Ebulição Urinária Desconfortável". Por tanto mire sempre na rodelinha colorida de cheiro que o pessoal da limpeza deixa na hora da manutenção. Não fique constrangido, ela serve exatamente para isso. Desta forma, o vapor que sobe tem um cheiro mais agradável. Mas, caso você seja como eu, e não goste de vapor nenhum na sua cara na hora do “pit stop”, utilize a técnica proposta também pelo filosofo Michael Kyle: Levante os olhos aos céus. Kyle, em sua obra, exemplifica esta parte da regra do mictório número 2, fixando-se o mais longe possível do calor da água quente cor de guaraná com água.
Obs.: Se você notar que um mictório acabou de ser usado, não se aproxime dele! Dirija-se ao poste mais próximo que seja, mas não use um mictório que acaba de desocupar. Dê a descarga e aguarde pelo menos 3 minutos. É o tempo que o vapor do último usuário demora para desfazer-se na atmosfera. Creio que você não queira seu xixi evaporando na sua cara, quanto mais o vapor de outro homem.

Essas foram apenas algumas dicas, dispostas aqui para facilitar o convívio num local de acesso público. Espero que tenha ajudado. Não se esqueça dessas dicas singelas, e nunca, jamais termine o serviço sem antes executar a Regra Diamante:

Lave as suas mãos.

É a regra mais importante. É a única coisa que você leva do convício com outros usuários para o mundo exterior, e nunca deve ser deixada de lado.

Deixo também a sugestão de um blog que ensina passo a passo, detalhadamente, o ato de ir ao banheiro, desde o momento da entrada até a saída.
http://macacorobo.blogspot.com/2011/07/manual-do-banheiro-publico-para-homens.html

Enjoy!

bjo.me.manda.um.recado.no.orkut

sábado, 6 de agosto de 2011

AI-5 Digital será votado nesta segunda-feira



Nesta semana será votado em Brasília o projeto de lei 84/99, que está sendo chamado de AI-5 Digital, proposto pelo deputado Eduardo Areredo do PSDB - MG, aquele do "mensalão mineiro", que propõe a restrição inconstitucional da Internet. Em palavras simples, você será considerado um criminoso da nação caso você resolva desbloquear o seu celular, ou até mesmo fazer Back up do filme em DVD original que você tem em seu lar. Você poderá pegar até 3 anos de prisão pela simples cópia que você fez pra ficar em casa.

Outro ponto absurdo da lei define que você não poderá passar uma música, por exemplo, ou um filme para alguém. Se você comprou, então é seu e SOMENTE SEU, e não deverá ser compartilhada. Passou pra alguém, CADEIA e MULTA, afinal você seria praticamente um assassino. O engraçado é que o Azeredo não foi pra cadeia, e ainda se elegeu (http://virou.gr/oOYMQb). Para quem não se lembra, o deputado federal Eduardo Azeredo foi denunciado pelo procurador-geral da república por peculato e lavagem de dinheiro em sua campanha para governador de Minas Gerais em 1998. Ele não foi preso ou caçado, mas quer tratar você, cidadão de bem, eleitor, pagante de impostos[absurdos], um criminoso federal por baixar um capitulo do seu seriado americano, que sequer será lançado no Brasil.





A Constituição Nacional, sobre a qual esta nação estaria supostamente costruída, garante a liberdade incondicional ao cidadão de bem, e o direito a privacidade. Ambos serão arrancado do internauta caso o PL-Azeredo seja aprovado nesta semana.
Recomendo o seguinte video para entender melhor o projeto AI-5 Digital:
http://www.youtube.com/watch?v=ELKUBWga8fo&feature=player_embedded

Os internautas estão se mobilizando em algumas frentes na internet para garantir seus direitos. Peço a você que invista apenas 3 minutos assinando as petições:

1-Petição on line no Avaaz - Comunidade Internacional de Campanhas na Web
http://www.avaaz.org/po/save_brazils_internet/

2-Petição in line no Institudo Brasileiro de Defesa do Consumidor, o Idec
http://www.idec.org.br/campanhas/facadiferenca.aspx?idc=24

3-Petição Independente de 2008
http://www.petitiononline.com/veto2008/


Galera, vamos nos unir para garantir nossos direitos. HASHTAG #Liberdadenainternet nos TT’s!!!

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Programa 360

Neste semestre tivemos aulas de radiojornalismo aqui no Unasp. O trabalho final da matéria era produzir um programa ao vivo na Radio Unasp.
O meu grupo fez um programa diferente do formato padrão de radiojornalismo. Fizemos uma espécie de "Pânico" cristão. Eu ouvia um programa assim numa rádio gospel de campinas, a Objetiva Sat. Eles tinham o programa "Sem Noção", onde cada dia os três locutores, cada um mais engraçado que o outro, discutiam sobre um tema previamente escolhido. Os ouvintes participavam, era muito legal. Uma vez eu fui visitar a rádio com a minha irmã e eles nos colocaram pra dentro do estúdio no meio do programa ao vivo. Foi ótimo.
Existe outro programa parecido, o programa “Login” que vai ao ar todos as noites, das 8 as 10 na Band FM. É igualzinho o Sem Noção, só que com mais simpático do que engraçado, e com dois ótimos apresentadores: o Marcelo e a Babi.
Eu e a outra produtora do grupo pensamos sobre a idéia de juntar esses dois programas com o Pânico no rádio. Apresentamos ao restante do grupo, que gostou e assim nasceu o 360. Este nome foi escolhido por que a idéia era que nós daríamos uma volta completa em torno de um determinado assunto.
O programa foi concebido como um talk show de início de noite, onde nós tínhamos um tema e um convidado principal, que fica conosco durante o programa inteiro, mas somente o primeiro bloco é focado nele. O 360 é dividido em três blocos, onde entrevistamos os convidados com muito bom humor. É um programa bem descontraído e engraçado. Aproximamos bem o jornalismo do humor. Os dois primeiros blocos são finalizados com notícias do Brasil e do mundo. Nos dois últimos, dois convidados diferentes se apresentam, um em cada bloco, e a entrevista passa a ser focada neles e não no convidado principal. Este passa a ser um membro honorário da bancada de apresentadores, podendo fazer comentários e perguntas sempre que sentir vontade. No futuro, caso o 360 passe realmente a existir, a idéia é colocar participações pelo Twitter, e-mail e telefone também.
O piloto do programa está aí embaixo, dividido em duas partes. Está editado, é claro. Espero que você goste do que vai ouvir.

FICHA TÉCNICA:
Direção: Bruno Quaresma
Produção: Edicléia Oliveira
Edição: Bruno Quaresma
Locutores: Bruno Quaresma / Haroldo Henrique
Reportagem: Bruna Oliveira / Rúbia Alves
Colunista Internacional: Marlene Quissola
Orientação: Prof.ª Valéria Hein

Piloto programa 360:

Parte 1/2

Download: http://virou.gr/lylcVe


Parte 2/2

Download: http://virou.gr/mO4szm




Você pode fazer o donwload do programa e mostrar pra todo mundo, desde que constem os devidos crédidos.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Entrevista Rodolfo Konder - Tortura e repressão no Governo Militar



“Eu acredito menos na bondade da natureza humana”, confessa Jornalista Rodolfo Konder, depois de ter sido torturado na ditadura


Não foram poucos os que passaram pela experiência devastadora da tortura durante a ditadura militar no Brasil. O Jornalista Rodolfo Konder, foi uma dessas pessoas. Konder é jornalista e escritor. Vindo de uma família forte, ligada à esquerda moderada, Konder foi perseguido logo no início da ditadura. Foi militante comunista e líder sindical da Petrobras, chamando para si o radar do governo militar. Passou pelo exílio por duas vezes, foi ameaçado, e enfrentou a tortura durante o governo Geisel.

Rodolfo já integrou o time de revistas importantes, como Realidade, Visão, Isto é, Época, Nova. Sempre muito ligado à cultura e à educação, Konder foi convidado para ser o Secretário da Cultura do Estado de São Paulo. Estabeleceu e Presidiu a Seção Brasileira da Anistia Internacional, cumprindo importantes missões diplomáticas. Foi editor-chefe e apresentador do Jornal da Cultura, na TV Cultura de São Paulo. Teve sua coluna permanente no jornal O Estado de São Paulo.

Atualmente Konder faz parte da Associação Brasileira dos Escritores - ABI, do Conselho Municipal de Educação de São Paulo e dirige a Bilioteca do Museu de Arte de São Paulo. Conta ainda com 22 livros publicados em sua bagagem, os quais ele brinca dizendo que somente sua mãe os lê.

Nessa entrevista que eu fiz com o Rodolfo Konder, ele conta como foi sua experiência com a tortura, como seu grande amigo Vladmir Hersog foi morto ao lado da sala onde estava e o que ele pensa sobre a abertura dos documentos sigilosos da ditadura militar.

A)Família
1.@BrunoSNN - Você veio de uma família muito influente, certo? Fale-meu um pouco de sua família, desde os avós até os dias de hoje.

Rodolfo Konder - Minha família teve presença relativamente marcante lá em SC. Mas depois meu pai mudou-se pro Rio e, como médico sanitarista e militante político, ele teve muita presença inclusive como candidato do partido comunista ao senado. E esteve preso na época da ditadura de Getúlio Vargas. Mas sempre foi um homem correto, decente. Ele tinha uma visão do mundo que era muito típica naquela época. Período da guerra fria, em que o mundo se dividia em bons e maus em função de uma visão ideológica fechada. Mas ele era um sujeito decente e que nunca pregou o uso da violência. Isso, alias, eu aprendi com ele. Eu também fui militante comunista durante algum tempo, mas era um “eurocomunismo”, influenciado pelos italianos, por uma linha mais moderada, e com uma visão muito crítica da URSS e dos países nos quais o comunismo se tornou uma ditadura feroz. Então tínhamos uma visão muito crítica de tudo isso, e essa visão crítica acabou me levando a me afastar do partido. Eu militei durante muitos anos, mas depois com essa leitura eu assumi o compromisso de defender a democracia e a liberdade. Inclusive fui presidente da Anistia Internacional do Brasil durante muito tempo. E também meu irmão que se tornou filosofo marxista, escreveu vários livros, mas também sempre com composições muito moderadas e comprometidas com a defesa da democracia e da liberdade. O Leandro Konder.

2.@BrunoSNN - Seu pai, Valério Konder, foi um homem muito firme. Marxista e Comunista na Ditadura de Getúlio Vargas, foi perseguido e preso. E você sempre foi um homem muito crítico. Como você via o seu pai e o governo brasileiro durante a sua infância?

R. Konder - Bom, meu pai era uma presença muito forte. Num certo sentido, eu faço sempre uma brincadeira. Por que o meu irmão não se manifestava. Botava tudo pra dentro. O resultado é que hoje em dia ele é um homem doente, com mal de Parkinson. Eu mexo que é influencia do “Velho Valério”. Por que ele engolia tudo para não enfrentar o velho, e o resultado é que isso causou problemas de saúde pra ele. E no meu caso, eu inventava histórias para me livrar da pressão do velho, e o resultado é que eu me tornei escritor. Então eu digo que esse foi um dos efeitos da presença do Velho Valério, que era um homem de tendência autoritária em casa, um tempreramento difícil. Mas era um homem muito inteligente, com quem a gente aprendia muito, inclusive.

3.@BrunoSNN - Vocês são em três irmãos, o Leandro, mais velho e mais chegado a sua mãe, a Luiza, mais nova e mais chegada ao seu pai, e você, filho do meio. Você chegou a se sentir meio rejeitado, talvez meio afastado dos pais por isso?

R. Konder - Certamente. Eu mexo inclusive que eu fiquei meio perdido, como filho do meio. Agora, a minha irmã eu digo que é o “macho” da família, por que ela era a única que enfrentava o Velho Valério, então realmente ela era muito corajosa. E o Leandro, como foi o primeiro filho, ele nasceu e, no mesmo dia, meu pai foi preso, passou dois anos preso, a minha mãe ficou muito ligada a ele, e eu entendi isso perfeitamente.

B) A Ditadura Militar

4.@BrunoSNN - Assim como seu pai, você também foi perseguido e preso. Inclusive, o seu primeiro exílio foi no México.

R. Konder - Foi. Eu era dirigente sindical na Petrobrás, então eu tinha uma importância grande do ponto estratégico, por que a Petrobrás sempre foi uma empresa muito relevante do ponto de vista econômico e político. E eu era dirigente nacional da Petrobras. Por que pouco tempo antes do golpe, estivemos com o presidente João Goulart, e éramos três dirigentes sindicais que representávamos os petroleiros do país inteiro. Eu era um deles. Então quando veio o golpe de 1964 eu, evidentemente, fui cassado. Fui cassado com “ss” e caçado com “ç”. Fiquei sem os meus direitos e, ao mesmo tempo, com a polícia atrás de mim. Então eu procurei abrigo na embaixada do México, e fiquei dentro da embaixada durante um mês, um mês e pouco, e depois com um salvo-conduto embarquei pro México. Fiquei lá durante alguns meses, depois desci pela costa do pacífico, e fomos, eu e mais dois dirigentes sindicais. Atravessamos aqui o continente pela costa do pacífico e descemos até o Uruguai. Ficamos por lá durante algum tempo. Eu estive algumas vezes com o Brizola, com o Jango, conheci esse pessoal todo. Até que resolvi voltar ao Brasil. E com a ajuda do Demistocles Batista atravessei a fronteira clandestinamente. Agora, como eu era dirigente sindical, ao voltar ao Brasil eu estava sem profissão definida. Mas como eu sabia inglês, arranjei emprego na agência Reuters como relator produzindo telegramas em inglês. Fiquei algum tempo lá e me tornei jornalista. Naquela época não precisava do curso. Com dois anos de prática, você se tornava jornalista profissional. Eu me tornei jornalista Trabalhei num jornal que chamava “O Paíz” e fazia traduções, fazia mil coisas para a civilização brasileira, Até que no final de 1968 surgiu a chance de vir para São Paulo trabalhar na [Revista] Realidade. Como eu já estava sendo perseguido lá e estava trabalhando em três lugares diferentes, eu aceitei o convite do Milton Coelho da Graça, e vim para São Paulo trabalhar na Realidade. Fiquei dois anos na Realidade, ao lado Maurício Azedo, atual presidente da ABI. E depois houve uma mudança na direção, e eu comecei a me sentir ameaçado por que estavam demitindo gente. Então antes que viessem pra cima de mim, eu aceitei um convite para trabalhar na Revista Visão. A Visão era uma revista importante que tratava de economia e política. Eu fui pra lá como redator, mas depois fui promovido a chefe de redação. Fui quieto alguns anos lá, até que em 1975 eu fui preso. Passei pela experiência devastadora da tortura, e quando saí da prisão, ameaçado, eu publiquei um depoimento sobre o que tinha acontecido lá dentro feito no escritório do meu advogado. As ameaças aumentaram, e eu fugi pela fronteira em Foz do Iguaçu, e fui para a Argentina. Mas saí de lá, por que todo mundo já me advertia que haveria um golpe militar por lá. Todo mundo já sabia. Coisa de America Latina, né. E eu saí da Argentina, e, dias depois, teve o golpe militar. Então foi sorte minha. Eu saí e fui pro Peru. Do Peru eu saí e fui pro Canadá. Fiquei 2 anos no Canadá, morando em Montreal, e fiquei mais dois anos nos Estados Unidos. Foi meu segundo exílio. No final de 1978 eu voltei ao Brasil. A situação aqui já tinha melhorado. O processo de abertura já estava em andamento, com o Geisel. Eu fui interrogado ao chegar, mas não me prenderam. Eu voltei a trabalhar. Como eu precisava sobreviver, não tinha emprego, aceitei um emprego na Revista Nova. Éramos 15 mulheres e eu, escrevendo sobre Tensão Pré-Menstrual, caroço no seio e outras coisas. Mas também deu pra escrever coisas boas. Fiz um perfil do Yves Montand que até o Jorge Semprun, que morreu a pouco, diz no livro dele sobre o Yves Montand, que ele gostou muito da minha matéria na Revista Nova e que leu para o Yves Montand. Ele conta isso no livro dele. Mas enfim. Fiquei na Nova, até o [André Franco] Montoro ser eleito [governador de São Paulo eleito em 1982]. Fui chamado pra trabalhar no Palácio [dos Bandeirantes]. Mas depois acabei indo trabalhar na TV Cultura. Apresentei o jornal durante algum tempo. Mas depois fui chamado em circunstâncias absolutamente excepcionais, para ser secretário de cultura de São Paulo, na época do Maluff. O Maluff me deu total liberdade. Não indicou uma única pessoa para trabalhar comigo. Me deu verbas boas para fazer um bom trabalho. Eu acabei ficam oito anos como secretario de cultura de São Paulo. Depois saí, e agora estou aqui na Associação Brasileira dos Escritores, estou no conselho Municipal de educação e estou no Masp.

5.BrunoSNN - Como foi a primeira vez que o DOI-CODI chegou pra prender você?

R. Konder - Eu estava em casa, por que eu levava uma vida absolutamente normal e legal. Mas acontece o seguinte, pra gente entender isso, a gente tem que entender o que estava se passando no Brasil. O Governo estava dividido entre o grupo Geisel-Golbery que queria promover a abertura, e o grupo que dominava a repressão, que não queria a abertura. Então esse grupo que dominava a repressão e que tinha o controle do exército aqui em São Paulo eles acabaram com o pessoal da esquerda mais radical, todo mundo foi preso e foi morto, e como precisavam justificar a repressão eles vieram pra cima de nós. Nós que éramos militantes de esquerda, mas da linha pacifica. Eu estava em casa, de manhã, e tocou a campainha, e quando eu fui ver, era o pessoal da polícia. Me levaram de carro para o DOI-CODI, me ficharam. Depois me levaram para um primeiro interrogatório. Eu estava com os olhos tapados. Começaram a gritar comigo. Me deram uns tapas. Botaram uns fios nas minhas mãos e no meu tornozelo, e ficaram me dando choques elétricos. Um cara com um fio desencapado me dava choques no pescoço e na cabeça. Depois de passar por essa experiência, eu fui levado para o andar de baixo, carregado praticamente. No dia seguinte, o interrogatório já foi menos pesado. Mas de qualquer maneira eu já estava disposto a falar o que eles quisessem, depois de passar por essa experiência devastadora, trituradora, que você não acredita que esteja acontecendo, por que você não imagina que seres humanos sejam capazes de tal baixaria. Passei por essa experiência e a minha crença na bondade intrínseca do ser humano diminuiu muito.

6.BrunoSNN - Você foi torturado outras vezes?

R. Konder - Não. Depois eu fui ameaçado, mas tortura foi só nessa ocasião. Depois da tortura, me botaram numa cela com outras pessoas que estava sendo torturadas também. A gente passava a noite ouvindo gritos, vendo essa prática deles. Agora, veja bem, depois que eu saí e denunciei a tortura, por que me transferiram pro Dops. No Dops, a primeira coisa que me falaram foi “fica tranqüilo por que aqui não tem porrada”. Mas ai eu denunciei ao ser libertado do Dops, já em casa, eu fiz um depoimento que saiu nos jornais. Mas ai eu comecei a receber ameaças desse pessoal que se intitulava: “O Braço Armado da Repressão”. Aí eu resolvi ir embora, né. Eu pedi ao [Henry] Maksoud que me demitisse. Ele nem queria, foi muito solidário comigo. Mas Eu pedi que me demitisse pra pegar o dinheiro da indenização e fugi pela fronteira ali em Foz do Iguaçu.

7.BrunoSNN - Esses fios que usaram em você eram a chamada “Pimentinha”, certo?

R. Konder - A Pimentinha! A Pimentinha era essa máquina de choque. Eram fios elétricos que eles enrolavam nos braços, nas mãos e nos tornozelos. Eram ligados a uma máquina que o cara acionava. E um deles tinha um fio na mão que dava choque, que ele usava para dar choque no pescoço e na cabeça.

8.BrunoSNN - O jornalista Vladmir Herzog era seu colega, nessa época.

R. Konder - Sim, era meu amigo. Meu grande amigo. E ele foi torturado numa sala ao lado da sala onde eu estava, uma sala de espera. Nós ficávamos sentados com um macacão do exército e com os olhos tapados. A gente tinha que olhar por baixo da venda. Mas ele estava sendo interrogado numa sala ao lado. Depois o cara me chamou, por que ele estava com uma dúvida, sobre um nome qualquer. Depois eu saí da sala e a dúvida já esclarecida. E começamos a ouvir os gritos dele [Herzog]. Os gritos foram aumentando, ai foram diminuindo, ai cessaram. Então fomos retirados da sala de espera, por que ele já tinha morrido e eles precisavam retirar o corpo dele e passar pela sala onde nós estávamos. Fomos retirados e levados para o andar de cima a pretexto de reconhecer algumas fotos. Mas na realidade eles queriam nos afastar do caminho para poderem retirar o corpo do “Vlado” dessa sala. Ele morreu sob tortura, por que ele estava sendo torturado com choques elétricos, aquela coisa que eu já tinha passado. E ele reagiu, e bateram nele, de mau jeito, e ele bateu com a cabeça no parapeito de uma janela baixa que tinha nessa sala onde ele foi interrogado. E foi ali que ele morreu.

9.BrunoSNN - O que significa a tortura para uma pessoa que passou pela experiência? Quais são as implicações a curto e longo prazo?

R. Konder - Eu acredito menos hoje na bondade da natureza humana do que eu acreditava antes. Perdi certa ingenuidade. Continuo acreditando que precisamos fazer alguma coisa para melhorar o mundo em que a gente vive, mas confesso que estou cada dia mais cético. Eu acho que o mundo, como dizia o velho Jorge Luiz Borges, o presente está em declínio, o presente está só. As pessoas ignoram o passado, a história. Em consequência disso não têm como trabalhar com o futuro, prever o futuro. E as pessoas, alem de ignorar a história, têm hoje um compromisso cada dia menor com a ética, que é uma coisa que eu acho que faz muita falta. Basta a gente sentir o quadro político para a gente ver como a ética está esquecida. Então essas experiências todas me deixaram mais cético.


C)A Anistia Global e a Abertura dos Documentos da Ditadura

10.BrunoSNN - Mas você acha que a tortura pode ser justificada de alguma forma?

R. Konder - Veja bem, depois que eu comecei a rever meus pontos de vista políticos, eu acabei me ligando, já no exílio, ao pessoal da anistia internacional Andrew Blaine, em Nova York. E quando voltei ao Brasil, me liguei à cessão brasileira da anistia e acabei presidente da anistia no Brasil. E qual é o mandato da anistia? Primeiro, a libertação imediata e incondicional dos presos de consciência, que são as pessoas presas em razão da defesa de convicções pela via pacífica. Segundo, o julgamento rápido e justo para os presos políticos. E terceiro, o combate a tortura e a pena de morte. Esse é o mandato da Anistia. O combate a tortura e a pena de morte é um principio universal, consagrado inclusive na Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU. Em nenhum lugar do mundo você pode admitir a tortura e a pena de morte. Só que em muitos países as pessoas ainda são torturadas, a tortura ainda é uma prática permanente. Os regimes autoritários sempre apelam para a tortura e para a violência.

11.BrunoSNN - No fim da ditadura militar, houve a sanção da Lei da Anistia Política, que concedeu proteção aos que cometeram crimes a favor do governo. Muitos acreditam que essa lei facilitou o processo da queda da ditadura. Para outros foi uma medida desesperada sem consulta ao povo, e por isso poderia ser revogada. Qual é a sua visão acerca da Lei da Anistia? Ela prejudica, de alguma forma, as pessoas lesadas durante a ditadura?

R. Konder - Eu acho que com o tempo as coisas vão se esclarecendo. Inclusive em alguns países aqui da America latina, por que houve um período naquele momento mais agudo da guerra fria que as ditaduras militares se multiplicaram aqui no continente. E outros países que também enfrentaram ditaduras militares sangrentas, em certos aspectos mais violentas do que a nossa, estão abrindo esses documentos todos para esclarecer quem cometeu crime naquele período. Na Argentina já tem até generais que estão sendo presos. Enfim, eu acho que com o tempo esses documentos vão acabar aparecendo e as coisas vão sendo resolvidas.

12.BrunoSNN - Existe um debate muito grande sobre abri-los ou não abri-los, mas não adianta forçar então.

R. Konder - Eu acho que vão acabar abrindo. Agora também a gente tem que levar em conta o nosso quadro político atual, que é um quadro pouco comprometido com a ética. Mas, enfim, vamos manter alguma esperança.

13.BrunoSNN - A Comissão da Verdade é um projeto do Programa Nacional dos Direitos Humanos, cujo objetivo seria investigar os crimes do governo durante a ditadura, mas não punir. A intenção é boa, mas, a longo prazo, essa iniciativa de investigar e abrir documentos não poderia criar um clima de revanchismo no governo, que já não é muito comprometido com a ética, como você mesmo disse?

R. Konder - Eu acho que sim. Agora, essas coisas têm que ser dosadas de maneira sempre muito equilibrada. Se vão investigar, certamente o segundo passo seria unir os que cometeram crimes em nome do Estado. Há sempre o risco de um exagero do outro lado. A gente sabe que esse risco está sempre presente por que o maniqueísmo é uma das presenças mais marcantes do comportamento humano.

14.BrunoSNN - Você guarda algum rancor de alguém, ou do governo, por conta da tortura?

R. Konder - Não, não guardo. É como eu falei, a minha crença no ser humano diminuiu, mas eu não guardo rancores pessoais não.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

O Mandamento Esquecido




“Não tomarás o nome do Senhor, o seu Deus, em vão...”, esse é sem dúvida o mandamento que as pessoas dão menos importância. Nós, evangélicos, vivemos criticando os católicos por que eles oram para dezenas de santos. A gente fala mal de quem dorme o sábado todo, a gente acha feio quem briga com os pais, mas a gente não liga pra quem usa o nome de Deus como bordão.

Esse é o pecado que eu mais tenho raiva. Porque seus bisavôs diziam: “Ai meus Deus”, seus avós falavam: “Ai meus Deus”, seus pais dizem: “Ai meus Deus”,e seus amigos : “Ai meus Deus”, e, por conseqüência, você fala: “Ai meus Deus”, a toda hora, sem sentir qualquer peso na consciência. É, possivelmente, o único mandamento que o Inimigo não precisa perder tempo em tentar ninguém. Todo mundo já atropela o 3º mandamento normalmente. Mas o que ninguém saca é que esse é um pecado como qualquer outro.

Para ficar mais fácil, vamos raciocinar de outra forma, um pouco mais simples. Digamos que você comece a roubar sem parar. Você entende que se fizer isso, sua vaga no céu estará seriamente comprometida, correto? Se você começar a assassinar as pessoas, vai ficar difícil pra Deus segurar sua cadeira no banquete celestial, certo? Se você trabalhar no sábado ou adorar a outros deuses, as coisas podem complicar um pouco. Ou se você desrespeitar seus pais, mentir para eles, cobiçar as coisas do seu vizinho, ou ter algum tipo de relacionamento extraconjugal, é quase certo que você fique por aqui quando Jesus voltar. Você entende isso, né? Então por que achar que dizer “Ai meus Deus” toda hora não tem problema? Bom, eu tenho uma surpresa bem desagradável pra você agora. Está preparado? Lá vai: falar o nome de Deus em vão é um pecado tão grande quanto assassinar uma pessoa, e, acredite, você corre sérios riscos de ser deixado aqui para queimar quando Jesus voltar a esta terra.

Por que achar quê achar que esse pecado não é tão grande quanto os outros, ou que este não seja um pecado? As pessoas dizem adorar a Deus, mas dizem o nome dele como se fosse algo comum? Você sabe o que aconteceria com você se dissesse “Deus” a cada hora que respirasse no antigo Israel? Você e a sua família seriam apedrejados na frente de todo o povo. Gente, isso é sério. O nome de Deus é sagrado. Ele não é o presidente da república, ele não é um ator famoso, ele não é o ex-namorado da Madona.O nome de Deus não é brincadeira. Ou você acha que dizer o nome de Deus em vão é fazer piadas com Ele? Cada vez que você diz: “Ai meus Deus” sem qualquer critério, você está cavando a sua cova.

A Bíblia fala de um pecado que não tem perdão. Todos os outros têm e sempre terão, mas existe um pecado que Deus não pode perdoar, embora ele queira. É o chamado “Pecado contra o Espírito Santo”. Muitos não entendem o que é este pecado, então eu vou explicar de maneira bem simples. O pecado contra o Espírito Santo é quando você comete um determinado pecado tantas vezes, que, com o passar do tempo, você fica “narcotizado” por esse pecado e deixa de pedir perdão a Deus por que isso se torna natural, sabe. E por que Deus não perdoa? Por que não tem como ele perdoar algo que você não mais se arrepende de ter feito. Quando você usa o nome SANTO Dele para se referir a qualquer acontecimento da sua vida, e faz isso durante alguns anos, isso passa a ser normal pra você. Você faz disso um habito. Já não é mais pecado, então pra quê pedir perdão?

E a coisa é tão séria que esse é o primeiro mandamento que vem com uma ameaça no final: “... por que o Senhor não terá por inocente o que tomar o Seu nome em vão.” A versão internacional diz: “... por que o Senhor não deixará impune o que tomar o seu nome em vão”. Não tem como simplificar mais, eu tentei. Deus não vai deixar passar. “Meu Deus, que frio”, “Meu Deus, que gata”, “Meu Deus, que linda a sua roupa”. E têm piores. Eu já ouvi: “Meu Deus, que bosta!”. Velho, por favor, não diz mais isso. É pior que falar o palavrão mais horrível que você pensar. Isso é um pecado como todos os outros, e é muito sério, por que você está mexendo diretamente com o Ser mais sagrado e poderoso que existe. Um ser diante do qual você não representa nem um átomo de um verme. Você está usando o nome de um Ser que é eterno e criou TUDO o que existe. Diante Dele você é um saco de imundícia, ou, de bosta, se preferir um palavra mais atual. Você acha coerente usar o nome de alguém tão santo, que, coincidentemente, é o juiz que vai determinar se você vive ou morre para sempre, sem qualquer critério?

Felizmente para nós pecadores sempre tem uma nova chance de começar de novo e fazer direito. Sabe, esse Deus, o qual você diz o nome dele a toda hora, é muito bondoso. Ele mandou seu Filho para morrer por nós exatamente para que você tivesse outra chance quando dissesse o nome Dele em vão. Então vamos combinar de eu e você pararmos uns segundinhos AGORA para fazermos uma oração, bem rapidinha, porém sincera, suplicando perdão a Ele pelo mal uso de Seu nome, e pedindo ajuda para evitar passar por cima do 3º mandamento, como é o costume do mundo, no qual você vive, mas não quer ficar muito mais tempo, blz?

terça-feira, 24 de maio de 2011

Geração Inquieta


O jovem sofre de ansiedade por estar conectado com mil coisas ao mesmo tempo

Já teve dias em que você estudou, trabalhou, tuitou, criticou, escutou, assistiu, e mesmo assim não fez nada? E o pior é que no fim do dia você tava cansando pra caramba, pensando no que ia fazer no dia seguinte. A noite passou e nada de o sono chegar. Amanheceu e começou tudo de novo. É desesperador, mas é comum. A sociedade de hoje já nasce a 100 por hora, ligada em 220, não para por nada! O jovem é ansioso por natureza, pensa em tudo ao mesmo tempo, se preocupa com o que nem aconteceu, e isso pode ser um problema.

Alias, a psicóloga Jean Twenge da Universidade Estadual de San Diego em sua pesquisa mostra que os jovens americanos estão 5 vezes mais ansiosos em relação aos jovens de 1938. Está nascendo uma nova geração de pessoas inquietas. Doenças como a depressão e obesidade, e a baixa imunidade são resultados da ansiedade insana do jovem atual.

Beleza, ai você pergunta: “Você tá querendo dizer que se eu ficar ansioso eu fico doente?” Não! Nada disso. Existem dois tipos de ansiedade. Para o médico especialista em saúde da família e comunidade, Fábio Cortez Rodrigues há dois tipos de ansiedade. “Existe a normal, que é o sentimento de antecipação do ser humano diante de alguma coisa, e a anormal, o Transtorno de Ansiedade Generalizada”. Esse segundo é quando a ansiedade se torna mais contínua. A pessoa come mais, ou deixa de comer, fica irritada, começa a brigar, e adoece.
A professora de história Giane Lumertz confessa que tem muita coisa para fazer, mas parece que não dá tempo pra nada. “Começo o dia abrindo meu e-mail, Twitter, o ‘Face’, jornal, sites, enfim. Eu quero saber tudo o que está acontecendo no mundo, mas eu não tenho tempo pra me informar como gostaria. Isso realmente me deixa muito ansiosa e as vezes sinto que abaixa a minha imunidade”, declara.

A ansiedade é uma doença que cresce muito, pois se camufla em outros males, como o estresse. O jovem não dá a devida atenção para aquilo que sente. As vezes o contato com tanta tecnologia ultrapassa a barreira da paz de espírito e dá início a uma cadeia de constante cobrança. Portanto, um equilíbrio pessoal, profissional e tecnológico é essencial para que haja uma boa qualidade de vida. Respire! Que tal um passeio no parque? Lembre-se: uma coisa de cada vez, e não se esqueça de organizar a sua agenda.


Fabiane Quero / Bruno Quaresma

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Eletrônica Cerebral


[http://blog.guidu.com.br/tag/tata-aeroplano/]


Vocalista da banda Cérebro Eletrônico, originada no movimento cultural da Baixa Augusta, fala sobre as “Ondas hibridas ressonantes” de suas músicas


De uns anos para cá, a Rua Augusta, no centro de São Paulo, tornou-se um grande pólo mundial de identificação e nascimento cultural. Num emaranhado de gente e casas de shows, novos artistas são descobertos. Uma galera jovem, ousada, que não tem medo do novo, do desconhecido. Antigamente a região era freqüentada somente por sub-artistas, um pessoal mais undergrond, mas atualmente cada vez mais pessoas dão as caras por lá. Querem ver que movimento e este, que vem fazendo barulho e mexendo com a cabeça da galera.
Octávio Francisco de Paula Neto, ou Tatá Aeroplano, como é mais conhecido, é o vocalista da banda “Cérebro Eletrônico” e da “Jumbo Elektro”, e de várias outras. Todas elas surgiram na região mais multicultural do planeta, a Baixa Augusta, um lugar em que todos têm espaço, todos se respeitam. Tatá é um grande ícone dessa cultura urbana que teve início na Augusta. Suas músicas são peculiares, para não dizer completamente diferentes do que já existe.
Entrevista Tatá aeroplano

1. Tatá, Como foi o início da sua carreira? Você já tocava em alguma banda? De onde surgiu o nome Tatá Aeroplano?
Tatá Aeroplano - Meu nome surgiu por causa de da banda americana “Jefferson Airplane. Eu escutava bastante na época da faculdade, e ai os amigos começaram a me chamar de “Airplane”. Ficou “airplane”, “airplane”, depois eu mesmo dei uma “abrasileirada” pro Tatá Aeroplano e ficou.
Eu tinha uma banda. A primeira banda que eu tive chama “Logorpiava”, que foi formada em Bragança Paulista junto com o Fernando Maranho, parceiro meu no “Cérebro” e no “Jumbo”. Essa banda acabou no final dos anos noventa, em 99. E em 2000, 2001 a gente começou já a produzir músicas do Cérebro Eletrônico, criar compor... Gravar né. A gente gravou o primeiro disco do Cérebro Eletrônico todo em casa. Foi um processo que a gente começou com o Cérebro mais ou menos no começo de 2000.

2.Como vocês tiveram a idéia do nome “Cérebro Eletrônico”?
Tatá Aeroplano - Quando a gente começou a gravar o disco, o primeiro disco a gente começou a gravar em casa, estávamos escutando muitos discos dos tropicalistas, arranjados pelo Márcio Rogério Duprá. E como a gente estava trabalhando e escutando muita música eletrônia, fizemos um nome que era de uma música tropicalista que também poderia ter a ver com música eletrônica. O Nome Cérebro Eletrônico tinha a ver com a tropicália e com a eletrônica. Isso é legal.

3. Você faz parte do movimento que se originou na baixa augusta. Qual a importância dessa região e o que faz ela ser tão criativa?
Tatá Aeroplano - Desde o começo dos anos 2000, cidade de São Paulo começou a ter mais oportunidade pra shows, as casas de show começaram a melhorar a estrutura de som, a estrutura para as bandas se apresentarem. Muitas bandas novas surgiram em são Paulo. E muitos grupos novos vieram pra São Paulo. Várias casas abriram na [rua] Augusta, abiu o Vegas, o Estúdio SP foi para a Augusta e levou a programação musical que estava na Vila Madalena. E muitas bandas moram ali na região. Surgiram pontos de encontro. A galera se reunia ali nos barzinhos ao lado do Estúdio SP, muitas bandas, muitos músicos. Tem uma coisa boêmia na Baixa Augusta que é muito forte. Tem de tudo. O cara que quer putaria tem putaria. O cara que quer perder a linha, paquerar... Então tem de tudo ali. Concentrou.

4. Qual sua percepção do cenário cultural e artístico de São Paulo?
Tatá Aeroplano - É muito rico, né. Hoje a diversidade é muito grande, de bandas, de estilos. Eu freqüento, não só a galera ligada à música brasileira, mas também a galera ligada ao Rock que outra turma, né. Mas que também é riquíssima, e influencia bastante o ritmo da cidade. Ai você tem os lugares que são importantes, como o Estúdio SP como casa de show que reúne toda essa galera, todas essas tribos. A praça Rusevelt também é um lugar importante que reúne a galera do teatro que curte música. Muitas vezes eu vou lá pra curtir, e a galera do teatro vai também aos shows. Tem o lance do pessoal também do “Fora do Eixo”. Eles montaram uma casa em São Paulo. Estão fazendo eventos pela cidade em parceria com o Estúdio até. Tem um movimento interessante rolando em São Paulo.

5. Voltando para sua banda, os membros fazem parte de outros grupos musicais, além do Cérebro Eletrônico e do Jumbo Elektro.
Tatá Aeroplano - Então, é muito doido por que a gente faz parte do Jumbo ELektro também. Eles acabam tendo uma serie de atividades paralelas. Isso ajuda a levar a banda pra frente, todo mundo fica mais tranqüilo.

6. A outra banda que os integrantes do Cérebro participam juntos é o Jumbo Elektro, que você citou. Como o Jumbo surgiu? E de onde veio essa idéia de cantar “embromation”?
Tatá Aeroplano - A gente já estava com o Cérebro Eletrônico ensaiando, fazendo shows. E começamos a criar umas músicas que não tinha nada a ver com o Cérebro. A gente viu que era uma outra banda. A gente convidou outras pessoas para entrar nessa banda. E ai surgiu essa banda, Jumbo Elektro. Até foi o Fernando Maranho que deu a idéia do nome. Alias, a gente começou a banda, fez o primeiro show... E tocou muito. A banda fez bastante barulho quando a gente apareceu com ela.

7. A música do Cérebro Eletrônico lembra muito artistas mais antigos, como Rita Lee, Raul Seixas e Sergio Sampaio, citado inclusive na música: “Pareço Moderno”. Mas ao mesmo tempo é um estilo que consegue ser muito original. Que gênero musical é esse?
Tatá Aeroplano - Então, eu não sei dizer o gênero. Mas tem uma coisa, a partir do momento que a gente passou muito tempo juntos, criando, fazendo som, cada integrante foi se desenvolvendo musicalmente. O Fernandão é um baita compositor. Eu particularmente escrevo muito. A gente admira muito essa galera das antigas. Quando a gente faz um disco, a gente pensa no conceito álbum, como era antigamente mesmo. Então a gente vai atrás de um conceito musical que acaba criando a nossa identidade musical. O cara ouve e fala: Isso aqui é coisa do Cérebro Eletrônico. A gente tem hoje essa possibilidade né. Isso é muito bom, a gente poder criar um som que ao mesmo tempo ele resgata uma sonoridade de uma época, mas fazendo de uma maneira diferente, e até inovadora.

8. As músicas do “Cérebro” são meio tropicalistas. São, como o nome do primeiro CD da banda diz, “Ondas híbridas ressonantes”. Elas fazem com que, mesmo o ouvinte que não aprecia o ritmo, ouça a música até o final. O que vocês esperam que o público sinta ao ouvir as músicas?
Tatá Aeroplano - É uma identificação que tem acontecido. A gente tem feito shows fora de São Paulo. A gente se apresenta pra um publico muito inteirado nas músicas. Acho isso trás um aprendizado pessoal pra esse público. Tem, por exemplo, a música que abre o nosso último CD, a Decência, e tem várias pessoas que falam: “Cara, isso já aconteceu comigo”, “Eu já fiz isso”. Então as pessoas acabam se identificando. O cara vai lá e escuta o disco inteiro, ele consegue se identificar em algumas músicas. Eu como um grande admirador na música de canção me encontro o tempo inteiro nas músicas dos outros, e é isso o que me faz curtir, gostar muito de música, e me envolver com a música, com artistas e shows. A gente faz a música pesando que tem que fazer uma música pensando no público. Não fazer uma música pra fazer sucesso. Mas é uma música que coloque ali alguma coisa que o cara se coloque dentro daquela história.

9. O último álbum, o “Deus e o diabo no liquidificador” tem nada menos do que dez, das onze faixas, compostas por você. Quais são as suas maiores influências na hora de escrever e apresentar suas músicas?Todas elas têm, visivelmente, uma temática muito forte. Lembram muito roteiros teatrais.
Tatá Aeroplano - Eu acho que como eu vejo muito o cinema, quando eu escrevo eu vou já pensando nas imagens, sabe. Na “Decência” mesmo, é uma musica que eu escrevi e que algumas coisas que estão ali na musica, eu mesmo vivi. Então quando eu comecei a compor eu estava pensando nisso. Você vai criando e a música vem. “Cama” é uma música que eu fiz na época influenciada por uma paixão. A música vem, sabe. E são histórias. A maior parte das letras são coisas que eu vivi ou que eu vi alguém vivendo, e que eu resgato na música.

10. O gênero de vocês é voltado para um público bem específico, um público jovem que aprecia a cultura urbana e novas tendênciasda arte. É uma área em que o retorno financeiro não é tão grande quando no Rock, Sertanejo e músicas regionais brasileiras. Você não acha meio arriscado investir nessa área mais específica? O retorno financeiro não fala mais alto em alguns momentos?
Tatá Aeroplano - Na real, essa historia é totalmente superada. Eu faço musica por uma necessidade fisiológica. Eu vivo pela música. Então eu dou muito valor pelas coisas que a gente faz sem ter o mínimo de interesse assim: “Pô, você tem que fazer uma música pra fazer sucesso, pra entrar na novela, pra fazer festa do peão boiadeiro”. A música que a gente faz não cabe nesse nicho. Também não é legal fazer uma música ‘Fake’, maquiada pra ganhar dinheiro, por que eu não tenho interesse. Eu não quero ganhar dinheiro, fazendo isso. Então o que a gente fez, cada integrante da banda tem uma atividade paralela. Por exemplo, eu descobri a discoteca faz tempo, e vi que é uma coisa que eu faço que dá bastante trabalho, faço em vários lugares de São Paulo. É o meu ganha pão. Tem a possibilidade de eu “discotecar” bastante, ganhar minha graninha, pagar as contas. Então o que vem do “Cérebro” ajuda também, e ajuda a gente a investir em, algumas coisas pra banda mesmo. Isso faz com que a gente consiga fazer o som que a gente quer, sem fazer concessão nenhuma. Não tem isso de: “Ah, essa música não pode dizer ‘baseado’”. A gente tem essa liberdade. O mais legal, que hoje tem acontecido, é que as musicas estão passando na rádio. Por exemplo a “Cama”, tem um monte de rádio que toca essa música, ela entrou na programação. E é uma música que são alusões ao uso de psicotrópicos (risos). Também tem espaço pra esse tipo de música. Em médio a longo prazo vai ter muita gente em contato com isso, sabe. É um processo novo, que vai ter um grande resultado para os artistas que se empenharem, que continuarem produzindo, fazendo shows pelo Brasil inteiro. Hoje tem o festival Fora do Eixo, e isso acaba aumentando a cada ano. Você vai focando pra um monte de gente nova que acaba seguindo a banda.

11.Vocês estão lançando os CDs na internet também. O objetivo é alcançar um grupo maior?
Tatá Aeroplano - A internet alcança muita gente! O que acontece é que um cara vai passando pro outro. Se a gente der uma olhada no Twitter, pesquisa Cérebro Eletrônico, tem um monte de gente que está escutando o som, passando pra frente, mostrando pros amigos. O cara que ta divulgando pela internet e faz questão de levar o nome pra frente, é gente que a gente não tem a mínima idéia. Tá seguindo a gente lá. Ajuda bastante, a levar o som da banda pra outras pessoas. Agora a gente vai fazer uns show s em Salvador, Aracaju. Quando a galera que ta sabendo que tem show lá, quem conhece, vai levar a galera junto. É muito importante pra levar o som da banda pra frente.

12. Quais são os seus planos futuros? E os planos da banda?
Tatá Aeroplano - O Cérebro agora vai lançar um clipe novo, da música “Decência”. Ele está pronto, vai lançar agora em junho ou julho. Na sequencia a gente vai fazer uns shows no nordeste. A idéia era tocar esse ano fora de São Paulo. Já tocamos no interior, também, em Bauru, Rio Preto. Em campinas a gente já fez show. Esse shows são legais por que a gente sai um pouco de São Paulo, e toca pra gente nova, né.




OBS: Essa entrevista foi para a revista experimental do meu grupo na Jornada da Comunicação aqui no Unasp. Vou ver se eu coloco um link pro donwload do PDF aqui no blog pra quem quiser dar uma olhada, quando ela estiver pronta. Está ficando fantástica.
Confesso que nunca tinha ouvido falar em absolutamente nada com relação à Baixa Augusta antes dessa semana. Para fazer essa entrevista eu passei horas na frente do computador fazendo uma pesquisa monstruosa sobre o Tatá, suas bandas e os movimentos culturais. Ouvi ótimas músicas dos álbuns do Cérebro Eletrônico e do Jumbo Elektro, que me ajudaram a entender e apreciar essa nova cultura urbana. Alias, acho que a minha matéria para o Itaú Cultural vai ser sobre isso.
Agradeço ao Tatá que foi super gente boa comigo, muito acessível, topou de primeira a fazer a entrevista. Um cara muito bacana. Valeu, Tatá.

segunda-feira, 21 de março de 2011

O Planeta clama por VINGANÇA



O mundo ainda está perplexo com o terremoto de 8,9 graus na escala Richter que fez o Japão chacoalhar. O tremor da sexta-feira, dia 11 de março foi o maior da história do país segundo o Instituto de Geofísica dos Estados Unidos, e já teve mais de 600 réplicas que não provocaram danos graves até o momento. Para os tremores, o Japão estava preparado. Suas construções são feitas para agüentar terremotos sem ir ao chão. A população é treinada para manter a calma e correr para os locais certos, evitando assim a perda de vidas em massa. No entanto ninguém pode se preparar para o que o Japão sofreu em seguida.

Um tsunami avassalador varreu a costa nordeste do Japão nos arredores da província de Miyagi pouco tempo depois do terremoto. O número de mortos e desaparecidos subiu assustadoramente depois das águas implacáveis do oceano Pacífico, que de Pacífico só tem o nome, terem lambido o continente.

Como se não bastasse, o tremor danificou os reatores da Usina Nuclear de Fukushima, o que fez com que o governo, impotente, evacuasse uma área de 30Km em volta da usina. Uma das nações mais poderosas do mundo, responsável pelos grandes avanços na tecnologia dos últimos anos, está de joelhos diante da força da natureza.

Há quem diga que o fenômeno é um sinal de que o fim do mundo está próximo, principalmente por que o aguardado ano de 2012 está logo ali na frente. Religiosos se preparam para a volta de seu Deus. Pensadores usam a catástrofe como argumento de que a Divindade não existe. Humoristas fazem piadas e jornalistas fazem carreiras. Enquanto isso o número de mortos e desaparecidos no Japão não para de subir, e o planeta deixa bem claro quem é que manda aqui.

O ser humano em toda sua soberba e arrogância tomou o mundo para si, ignorando a existência de outros seres que também tem necessidades. Regrinhas básicas de convivência entre espécies foram esquecidas em nome do poder. A sobrevivência do mundo não vale mais nada. O planeta Terra é uma mísera fonte de recursos, e está à disposição de qualquer um que quiser utilizá-los sem qualquer escrúpulo. Tudo o que vale é o dinheiro.

Mas não é assim que as coisas funcionam. Por anos a humanidade tem ignorado os avisos da natureza. Damos as costas como se o mundo fosse uma criança mimada. Mas se é pra tratá-lo como criança, então ele vai fazer birra. O mundo acordou, e está furioso.

Catástrofes como o tremor e tsunami no Japão, os terremotos no Chile, enchentes no Brasil e Austrália, nevascas e tufões nos EUA e na Europa expõem para quem quiser ver a impotência do débil ser humano, o ser dominante na Terra. Quero acreditar que ainda dá tempo para voltar atrás. Caso contrário, estaremos perdidos. Quem ainda não tem medo, que tenha, pois Deus sempre perdoa, o homem as vezes, mas a natureza nunca.