terça-feira, 24 de maio de 2011

Geração Inquieta


O jovem sofre de ansiedade por estar conectado com mil coisas ao mesmo tempo

Já teve dias em que você estudou, trabalhou, tuitou, criticou, escutou, assistiu, e mesmo assim não fez nada? E o pior é que no fim do dia você tava cansando pra caramba, pensando no que ia fazer no dia seguinte. A noite passou e nada de o sono chegar. Amanheceu e começou tudo de novo. É desesperador, mas é comum. A sociedade de hoje já nasce a 100 por hora, ligada em 220, não para por nada! O jovem é ansioso por natureza, pensa em tudo ao mesmo tempo, se preocupa com o que nem aconteceu, e isso pode ser um problema.

Alias, a psicóloga Jean Twenge da Universidade Estadual de San Diego em sua pesquisa mostra que os jovens americanos estão 5 vezes mais ansiosos em relação aos jovens de 1938. Está nascendo uma nova geração de pessoas inquietas. Doenças como a depressão e obesidade, e a baixa imunidade são resultados da ansiedade insana do jovem atual.

Beleza, ai você pergunta: “Você tá querendo dizer que se eu ficar ansioso eu fico doente?” Não! Nada disso. Existem dois tipos de ansiedade. Para o médico especialista em saúde da família e comunidade, Fábio Cortez Rodrigues há dois tipos de ansiedade. “Existe a normal, que é o sentimento de antecipação do ser humano diante de alguma coisa, e a anormal, o Transtorno de Ansiedade Generalizada”. Esse segundo é quando a ansiedade se torna mais contínua. A pessoa come mais, ou deixa de comer, fica irritada, começa a brigar, e adoece.
A professora de história Giane Lumertz confessa que tem muita coisa para fazer, mas parece que não dá tempo pra nada. “Começo o dia abrindo meu e-mail, Twitter, o ‘Face’, jornal, sites, enfim. Eu quero saber tudo o que está acontecendo no mundo, mas eu não tenho tempo pra me informar como gostaria. Isso realmente me deixa muito ansiosa e as vezes sinto que abaixa a minha imunidade”, declara.

A ansiedade é uma doença que cresce muito, pois se camufla em outros males, como o estresse. O jovem não dá a devida atenção para aquilo que sente. As vezes o contato com tanta tecnologia ultrapassa a barreira da paz de espírito e dá início a uma cadeia de constante cobrança. Portanto, um equilíbrio pessoal, profissional e tecnológico é essencial para que haja uma boa qualidade de vida. Respire! Que tal um passeio no parque? Lembre-se: uma coisa de cada vez, e não se esqueça de organizar a sua agenda.


Fabiane Quero / Bruno Quaresma

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Eletrônica Cerebral


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Vocalista da banda Cérebro Eletrônico, originada no movimento cultural da Baixa Augusta, fala sobre as “Ondas hibridas ressonantes” de suas músicas


De uns anos para cá, a Rua Augusta, no centro de São Paulo, tornou-se um grande pólo mundial de identificação e nascimento cultural. Num emaranhado de gente e casas de shows, novos artistas são descobertos. Uma galera jovem, ousada, que não tem medo do novo, do desconhecido. Antigamente a região era freqüentada somente por sub-artistas, um pessoal mais undergrond, mas atualmente cada vez mais pessoas dão as caras por lá. Querem ver que movimento e este, que vem fazendo barulho e mexendo com a cabeça da galera.
Octávio Francisco de Paula Neto, ou Tatá Aeroplano, como é mais conhecido, é o vocalista da banda “Cérebro Eletrônico” e da “Jumbo Elektro”, e de várias outras. Todas elas surgiram na região mais multicultural do planeta, a Baixa Augusta, um lugar em que todos têm espaço, todos se respeitam. Tatá é um grande ícone dessa cultura urbana que teve início na Augusta. Suas músicas são peculiares, para não dizer completamente diferentes do que já existe.
Entrevista Tatá aeroplano

1. Tatá, Como foi o início da sua carreira? Você já tocava em alguma banda? De onde surgiu o nome Tatá Aeroplano?
Tatá Aeroplano - Meu nome surgiu por causa de da banda americana “Jefferson Airplane. Eu escutava bastante na época da faculdade, e ai os amigos começaram a me chamar de “Airplane”. Ficou “airplane”, “airplane”, depois eu mesmo dei uma “abrasileirada” pro Tatá Aeroplano e ficou.
Eu tinha uma banda. A primeira banda que eu tive chama “Logorpiava”, que foi formada em Bragança Paulista junto com o Fernando Maranho, parceiro meu no “Cérebro” e no “Jumbo”. Essa banda acabou no final dos anos noventa, em 99. E em 2000, 2001 a gente começou já a produzir músicas do Cérebro Eletrônico, criar compor... Gravar né. A gente gravou o primeiro disco do Cérebro Eletrônico todo em casa. Foi um processo que a gente começou com o Cérebro mais ou menos no começo de 2000.

2.Como vocês tiveram a idéia do nome “Cérebro Eletrônico”?
Tatá Aeroplano - Quando a gente começou a gravar o disco, o primeiro disco a gente começou a gravar em casa, estávamos escutando muitos discos dos tropicalistas, arranjados pelo Márcio Rogério Duprá. E como a gente estava trabalhando e escutando muita música eletrônia, fizemos um nome que era de uma música tropicalista que também poderia ter a ver com música eletrônica. O Nome Cérebro Eletrônico tinha a ver com a tropicália e com a eletrônica. Isso é legal.

3. Você faz parte do movimento que se originou na baixa augusta. Qual a importância dessa região e o que faz ela ser tão criativa?
Tatá Aeroplano - Desde o começo dos anos 2000, cidade de São Paulo começou a ter mais oportunidade pra shows, as casas de show começaram a melhorar a estrutura de som, a estrutura para as bandas se apresentarem. Muitas bandas novas surgiram em são Paulo. E muitos grupos novos vieram pra São Paulo. Várias casas abriram na [rua] Augusta, abiu o Vegas, o Estúdio SP foi para a Augusta e levou a programação musical que estava na Vila Madalena. E muitas bandas moram ali na região. Surgiram pontos de encontro. A galera se reunia ali nos barzinhos ao lado do Estúdio SP, muitas bandas, muitos músicos. Tem uma coisa boêmia na Baixa Augusta que é muito forte. Tem de tudo. O cara que quer putaria tem putaria. O cara que quer perder a linha, paquerar... Então tem de tudo ali. Concentrou.

4. Qual sua percepção do cenário cultural e artístico de São Paulo?
Tatá Aeroplano - É muito rico, né. Hoje a diversidade é muito grande, de bandas, de estilos. Eu freqüento, não só a galera ligada à música brasileira, mas também a galera ligada ao Rock que outra turma, né. Mas que também é riquíssima, e influencia bastante o ritmo da cidade. Ai você tem os lugares que são importantes, como o Estúdio SP como casa de show que reúne toda essa galera, todas essas tribos. A praça Rusevelt também é um lugar importante que reúne a galera do teatro que curte música. Muitas vezes eu vou lá pra curtir, e a galera do teatro vai também aos shows. Tem o lance do pessoal também do “Fora do Eixo”. Eles montaram uma casa em São Paulo. Estão fazendo eventos pela cidade em parceria com o Estúdio até. Tem um movimento interessante rolando em São Paulo.

5. Voltando para sua banda, os membros fazem parte de outros grupos musicais, além do Cérebro Eletrônico e do Jumbo Elektro.
Tatá Aeroplano - Então, é muito doido por que a gente faz parte do Jumbo ELektro também. Eles acabam tendo uma serie de atividades paralelas. Isso ajuda a levar a banda pra frente, todo mundo fica mais tranqüilo.

6. A outra banda que os integrantes do Cérebro participam juntos é o Jumbo Elektro, que você citou. Como o Jumbo surgiu? E de onde veio essa idéia de cantar “embromation”?
Tatá Aeroplano - A gente já estava com o Cérebro Eletrônico ensaiando, fazendo shows. E começamos a criar umas músicas que não tinha nada a ver com o Cérebro. A gente viu que era uma outra banda. A gente convidou outras pessoas para entrar nessa banda. E ai surgiu essa banda, Jumbo Elektro. Até foi o Fernando Maranho que deu a idéia do nome. Alias, a gente começou a banda, fez o primeiro show... E tocou muito. A banda fez bastante barulho quando a gente apareceu com ela.

7. A música do Cérebro Eletrônico lembra muito artistas mais antigos, como Rita Lee, Raul Seixas e Sergio Sampaio, citado inclusive na música: “Pareço Moderno”. Mas ao mesmo tempo é um estilo que consegue ser muito original. Que gênero musical é esse?
Tatá Aeroplano - Então, eu não sei dizer o gênero. Mas tem uma coisa, a partir do momento que a gente passou muito tempo juntos, criando, fazendo som, cada integrante foi se desenvolvendo musicalmente. O Fernandão é um baita compositor. Eu particularmente escrevo muito. A gente admira muito essa galera das antigas. Quando a gente faz um disco, a gente pensa no conceito álbum, como era antigamente mesmo. Então a gente vai atrás de um conceito musical que acaba criando a nossa identidade musical. O cara ouve e fala: Isso aqui é coisa do Cérebro Eletrônico. A gente tem hoje essa possibilidade né. Isso é muito bom, a gente poder criar um som que ao mesmo tempo ele resgata uma sonoridade de uma época, mas fazendo de uma maneira diferente, e até inovadora.

8. As músicas do “Cérebro” são meio tropicalistas. São, como o nome do primeiro CD da banda diz, “Ondas híbridas ressonantes”. Elas fazem com que, mesmo o ouvinte que não aprecia o ritmo, ouça a música até o final. O que vocês esperam que o público sinta ao ouvir as músicas?
Tatá Aeroplano - É uma identificação que tem acontecido. A gente tem feito shows fora de São Paulo. A gente se apresenta pra um publico muito inteirado nas músicas. Acho isso trás um aprendizado pessoal pra esse público. Tem, por exemplo, a música que abre o nosso último CD, a Decência, e tem várias pessoas que falam: “Cara, isso já aconteceu comigo”, “Eu já fiz isso”. Então as pessoas acabam se identificando. O cara vai lá e escuta o disco inteiro, ele consegue se identificar em algumas músicas. Eu como um grande admirador na música de canção me encontro o tempo inteiro nas músicas dos outros, e é isso o que me faz curtir, gostar muito de música, e me envolver com a música, com artistas e shows. A gente faz a música pesando que tem que fazer uma música pensando no público. Não fazer uma música pra fazer sucesso. Mas é uma música que coloque ali alguma coisa que o cara se coloque dentro daquela história.

9. O último álbum, o “Deus e o diabo no liquidificador” tem nada menos do que dez, das onze faixas, compostas por você. Quais são as suas maiores influências na hora de escrever e apresentar suas músicas?Todas elas têm, visivelmente, uma temática muito forte. Lembram muito roteiros teatrais.
Tatá Aeroplano - Eu acho que como eu vejo muito o cinema, quando eu escrevo eu vou já pensando nas imagens, sabe. Na “Decência” mesmo, é uma musica que eu escrevi e que algumas coisas que estão ali na musica, eu mesmo vivi. Então quando eu comecei a compor eu estava pensando nisso. Você vai criando e a música vem. “Cama” é uma música que eu fiz na época influenciada por uma paixão. A música vem, sabe. E são histórias. A maior parte das letras são coisas que eu vivi ou que eu vi alguém vivendo, e que eu resgato na música.

10. O gênero de vocês é voltado para um público bem específico, um público jovem que aprecia a cultura urbana e novas tendênciasda arte. É uma área em que o retorno financeiro não é tão grande quando no Rock, Sertanejo e músicas regionais brasileiras. Você não acha meio arriscado investir nessa área mais específica? O retorno financeiro não fala mais alto em alguns momentos?
Tatá Aeroplano - Na real, essa historia é totalmente superada. Eu faço musica por uma necessidade fisiológica. Eu vivo pela música. Então eu dou muito valor pelas coisas que a gente faz sem ter o mínimo de interesse assim: “Pô, você tem que fazer uma música pra fazer sucesso, pra entrar na novela, pra fazer festa do peão boiadeiro”. A música que a gente faz não cabe nesse nicho. Também não é legal fazer uma música ‘Fake’, maquiada pra ganhar dinheiro, por que eu não tenho interesse. Eu não quero ganhar dinheiro, fazendo isso. Então o que a gente fez, cada integrante da banda tem uma atividade paralela. Por exemplo, eu descobri a discoteca faz tempo, e vi que é uma coisa que eu faço que dá bastante trabalho, faço em vários lugares de São Paulo. É o meu ganha pão. Tem a possibilidade de eu “discotecar” bastante, ganhar minha graninha, pagar as contas. Então o que vem do “Cérebro” ajuda também, e ajuda a gente a investir em, algumas coisas pra banda mesmo. Isso faz com que a gente consiga fazer o som que a gente quer, sem fazer concessão nenhuma. Não tem isso de: “Ah, essa música não pode dizer ‘baseado’”. A gente tem essa liberdade. O mais legal, que hoje tem acontecido, é que as musicas estão passando na rádio. Por exemplo a “Cama”, tem um monte de rádio que toca essa música, ela entrou na programação. E é uma música que são alusões ao uso de psicotrópicos (risos). Também tem espaço pra esse tipo de música. Em médio a longo prazo vai ter muita gente em contato com isso, sabe. É um processo novo, que vai ter um grande resultado para os artistas que se empenharem, que continuarem produzindo, fazendo shows pelo Brasil inteiro. Hoje tem o festival Fora do Eixo, e isso acaba aumentando a cada ano. Você vai focando pra um monte de gente nova que acaba seguindo a banda.

11.Vocês estão lançando os CDs na internet também. O objetivo é alcançar um grupo maior?
Tatá Aeroplano - A internet alcança muita gente! O que acontece é que um cara vai passando pro outro. Se a gente der uma olhada no Twitter, pesquisa Cérebro Eletrônico, tem um monte de gente que está escutando o som, passando pra frente, mostrando pros amigos. O cara que ta divulgando pela internet e faz questão de levar o nome pra frente, é gente que a gente não tem a mínima idéia. Tá seguindo a gente lá. Ajuda bastante, a levar o som da banda pra outras pessoas. Agora a gente vai fazer uns show s em Salvador, Aracaju. Quando a galera que ta sabendo que tem show lá, quem conhece, vai levar a galera junto. É muito importante pra levar o som da banda pra frente.

12. Quais são os seus planos futuros? E os planos da banda?
Tatá Aeroplano - O Cérebro agora vai lançar um clipe novo, da música “Decência”. Ele está pronto, vai lançar agora em junho ou julho. Na sequencia a gente vai fazer uns shows no nordeste. A idéia era tocar esse ano fora de São Paulo. Já tocamos no interior, também, em Bauru, Rio Preto. Em campinas a gente já fez show. Esse shows são legais por que a gente sai um pouco de São Paulo, e toca pra gente nova, né.




OBS: Essa entrevista foi para a revista experimental do meu grupo na Jornada da Comunicação aqui no Unasp. Vou ver se eu coloco um link pro donwload do PDF aqui no blog pra quem quiser dar uma olhada, quando ela estiver pronta. Está ficando fantástica.
Confesso que nunca tinha ouvido falar em absolutamente nada com relação à Baixa Augusta antes dessa semana. Para fazer essa entrevista eu passei horas na frente do computador fazendo uma pesquisa monstruosa sobre o Tatá, suas bandas e os movimentos culturais. Ouvi ótimas músicas dos álbuns do Cérebro Eletrônico e do Jumbo Elektro, que me ajudaram a entender e apreciar essa nova cultura urbana. Alias, acho que a minha matéria para o Itaú Cultural vai ser sobre isso.
Agradeço ao Tatá que foi super gente boa comigo, muito acessível, topou de primeira a fazer a entrevista. Um cara muito bacana. Valeu, Tatá.