terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Diario de Viagem - Parte 1


Como a maioria dos brasileiros da classe média fizeram, eu também fui viajar. Não que eu seja da classe média, é claro. Pagaram pra mim. Até por que eu fui de ônibus. Um lixo de ônibus. Seriam 18 horas sem nada pra fazer, então resolvi fazer um lindo diário de viagem dentro, narrando tudo a partir da saída da minha casa até a rodoviária de Teófilo Otoni, MG, meu destino. Ficou divertidinho. Vale a pena. Acompanhe:
Diário de Viagem: Bruno Quaresma
Um dos meus piores pesadelos está acontecendo: estou viajando. Não que isso seja ruim, mas é que eu sou meio carente e ficar sentado, sozinho, num banco de ônibus por mais de 15 minutos me incomoda muito. Mas vamos lá. O povo de minas quer me ver, então eu vou lá. Ah sim! Já ia me esquecendo: vou pra Minas Gerais: 18 horas de viajem, que terror! Isso sem contar as duas horas até São Paulo e as 4 horas esperando o buzão chegar. To perdido!

Quarta-feira, 16 de Dezembro de 2009
10h10min, Cidade de Eng. Coelho – Depois de deixar meu pai com a consciência pesada consegui fazer com que ele me trouxesse até a rodoviária, e de carro! Ele queria me trazer, juntamente com a minha mala de umas 30 toneladas, de moto!!!!!
Mas antes de chegar à rodoviária, nós fomos ao mercado, onde ele me fez gastar 15 reais em lanche para a minha viajem. Ele me deu 20 reais para isso, mas esse era o dinheiro que eu iria guardar para as minhas futuras diversões. Passei um pouco de raiva com ele, mas no fim fomos, os dois vivos e sem dinheiro, para a rodoviária.

10h18min, Buzão pra SP – Cheguei na rodô com o buzão quase saindo. Comprei a passagem e embarquei. Eu deixei a mala no bagageiro, só que o motorista, que tem cara de malandro, não deu nenhuma identificação para as minhas coisas. Espero que ninguém roube.

10h45min, Buzao pra SP – Paramos em alguma rodoviária por ai. Eu mudei de lugar para ver se alguém pega a minha mala escondido. Até agora ninguém tentou roubá-la... Ou já roubaram e eu não vi. Vamos voltar pra estrada. Vou parar de escrever por que escrever com o carro andando é um saco! Vou ler Noturno um pouco.

01h59min, Rodoviária do Tietê – Ah, como é bom escrever parado.Cheguei aqui há uns 40 minutos por que essa maldita viagem demorou umas 3 horas, não sei porque. Graças a Deus ninguém roubou minha bagagem.
Fui direto atrás da passagem. Consegui uma pela Itapemirim às 16h00min, mas antes enfrentei um pouco de fila na São Geraldo. Terrível! A partir de hoje eu odeio essa empresa. Que atendimento escroto, viu. A começar pela fila que não andava. Tá, isso é normal na maioria das filas, mas aquilo foi sacanagem. Desde a hora que eu cheguei tinha uma família de três lá no caixa, e eles não saíam de lá! Sei lá o que eles estavam fazendo, batendo um papinho, talvez. Chegaram pro cara do caixa e disseram: “Ei, quer conversar comigo? Quer seu meu amiguinho de Orkut??”... Ou quem sabe foi culpa do atendente incompetente que estava com um rolo de passagens soltas na mão, todo perdido, como ser elas houvessem saído da maquininha por algum erro técnico daquele imbecil.
Fora que a fila dos idosos e gestantes estava maior do que a de gente comum. O atendimento preferencial estava gigantesco!
Eu fui atendido por uma simpática senhora que, bondosamente, levantou-se de sua confortável cadeira e veio até mim, avisando-me que estava livre para me atender. É claro que todo esse encanto acabou quando ela abriu a boca para falar. Parecia que estava drogada. Aparentava uma altitude mental muito elevada, sabe tipo: nuvens... Era a senhora da ponta direita, embaixo da placa da Gontijo do guichê da São Geraldo, ás 13:40 da quarta-feira, 16/12/2009. Espero que ela não seja demitida, pois deve ter uns 200 filhos pra criar, mas um bom treinamento é sempre bem-vindo.
Em fim pulei pro guichê da Itapemirim, onde a fila foi rápida e o atendimento maravilhoso. Só teve um probleminha: A fila do atendimento preferencial estava MAIOR que a do atendimento comum! É como se eles preferênciassem gente comum para ser atendida. “Ah, vamos deixar deficientes, as moças com parasitas na barriga e os velhos que não se agüentam em pé esperando um pouco. Já esperaram a vida toda em filas para votar, pagar contas e serem atendidos pelo SUS... Podem esperar mais um pouquinho, senão eles podem atrapalhar as pessoas normais que tem mais chance de pagar por uma passagem “Golden Super Plus”...”. Aff.

14h32min, Tietê, esperando o ônibus. – Estou prestes a cometer o meu primeiro assassinato. Tem um molequinho aqui que tá com formiga na cueca, não é possível! Ele já levantou, conversou, brincou, pulou, tentou se jogar do segundo piso para a plataforma 23, nove metros abaixo... Ele é terrível! Não sossega! E o pior é que a peste resolveu bater uma garrafa de plástico no banco único, no assento ao lado do meu. Ah!!! Inferno de moleque! Agora ele colocou o dálmata de brinquedo dele na mureta de proteção. Estou quase derrubando o cachorro lá embaixo pra eu ter um pretexto para ajudar o moleque a pular atrás do brinquedo. A única coisa que esse demônio fez de bom foi dizer: “Cala a boca, velha coroca!” para uma berinjela enrugada da idade da Hebe, que dever ser a avó do pirralho. Velha pra caramba! Vou voltar a ler Noturno e prestar atenção em outro molequinho, que deve ser corintiano por que ele tá de olho no meu MP3 que tá carregando ali.

15h59min, mesmo lugar das 14:32. O ônibus sai às 16h30min, por tanto tenho que esperar mias um pouco aqui sentado. Estou feliz por que o moleque morreu. Ou simplesmente saiu daqui, eu não sei direito. Talvez a avó dele tenha se cansado e matado ele afogado na água da privada, ou talvez tenha queimado ele, ou enfiado o nariz e a boca dele no escapamento do ônibus para que ele morresse lenta e dolorosamente... Não.., eu não tenho tanta sorte assim.
Sentado aqui, escrevendo, fico na expectativa de quem terá o imenso desprazer de sentar ao meu lado no buzuca. Digo desprazer por que a pessoa vai ter que permanecer muda e, preferencialmente, sem respirar durante a viagem toda, por que, alem de eu querer dormir (adoro), eu odeio, mas odeio com todo o meu coração, quando um desconhecido começa a conversar comigo. Nossa! Eu fico irado, não sei por que. Como será esse infeliz? Pode ser a minha futura esposa, meu futuro chefe, meu futuro caso de homicídio doloso... Espero que seja alguém legal, ou que não seja ninguém.

16h49min, no buzão. – Enfim no ônibus. Depois de uma tarde até que agradável, embarquei no Itapemirim amarelão Tribus, o ônibus mais barato da frota. Uma pobreza de ônibus. Até que tá bem conservado, mas deve ter a idade do Seu Madruga. Nessas horas que eu fico pensando se eu não deveria ter esperado até a noite e embarcado pela São Geraldo. A Itapemirim tá de parabéns pelo atendimento, mas os ônibus... PQP, né! (Po, Que Pena). Tá certo que é o básico, pras classes mais baixas e tal, mas nem por isso tinha que vir o ônibus dos Flinstones, né? Pelo menos deram uma sacolinha para não vomitar no chão e uma revista para a leitura... Não sei pra quê, já que pobre não sabe ler. Pelo menos pobres que mereçam esse ônibus. Mas agora eu estou em duvida, será que nós somos pobres ou pobre é a empresa que só tem sucata, em vez de ônibus. Voto na 2ª opção, apesar de eu não ter dinheiro.
Mas a essa altura a única coisa que eu quero é sair de SP. Deu uma chuva terrível agora pouco, e você sabe, né... Chuva + SP = Oceano.
Ah, quase me esqueço. O banco ao meu lado está vazio. Estou quase pulando de alegria aqui. O único problema é que a negona da fileira ao lado tem dois filhos. O filho mais velho de uns 3 anos, que ela está espancando nessa viajem, e a menorzinha de um ou dois anos, que está dormindo... O problema vai ser se ela acordar. Mas talvez eu arranque o meu tênis e jogue na testa dela, garantindo que ela nunca mais acorde .

21h15min, algum lugar onde Judas perdeu as botas. – Paradinha de uma hora pro pessoal comer comida ou passageiras mais... deixa pra lá. Adorei o meu lugar. Estou sozinho no banco e o pessoal tá calado. Até as criancinhas perto de mim não dão um pio, nem mesmo quando a mãe as espanca. Acho que elas pressentem o perigo de me deixarem irritado. O ruim é a mãe deles. Meu, como pode, o moleque deve ter três ou dois anos, e a mãe xingando, brigando e batendo nele. Eu gosto de crianças, na verdade, gosto mesmo..quando eu to de bom humor. Eu que tava quase jogando o meu tênis na menininha para ela não acordar e abrir o berreiro, estou quase jogando o meu banco na mãe dela pra ela parar de bater daquele jeito nos filhos. Alias, acho que vou ali pra perto do meu ônibus, por que tem um imbecil fumando do meu lado.

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